6.11.08

Passa a outro e não ao mesmo...


They only want you when you're seventeen
When you're twenty-one
You're no fun
They take a polaroid and let you go
Say they'll let you know
So come on

(Seventeen, Ladytron)


Como já dizia o outro, não sei bem quem, mas também não vem ao caso, não há fome que não dê fartura. E não há fartura que não dê enjoo, acrescento agora eu. Depois de várias semanas a brincar ao gato e ao rato, resolvi que merecia umas tréguas. Não, não tirei o meu da recta, salvo seja, mas um bom estratega sabe sempre a hora certa de se retirar de campo. Sai de cena, mas estou disposto a voltar a jogo logo que a ocasião surja. Neste meio tempo, aproveitei, por exemplo, para me entupir de DVD's e para ver ao vivo os Ladytron no Lux - adoro a liberdade de poder andar na boa-vai-ela (sempre quis usar aqui esta expressão e descobri que vem no Houaiss!) numa terça à noite, ainda para mais tendo por companhia uma amiga que é tudo de bom na minha vida (e pensar que estive a ponto de trocar a sua companhia no concerto por um tipo que virou abóbora...).

Mas, e para provar que não rio apenas da desgraça alheia, permitam-me que vos faça o apanhado rápido de um, talvez o mais caricato, dos meus désaires mais recentes:
No post anterior contei-vos do antropólogo, que vim a saber depois ser também professor universitário - segundo o meu amigo Latinha, eu demonstro uma propensão alarmante por académicos...

A forma como tudo começou parecia tirada de um filme. Em menos de um ano, saía-me na rifa um gajo que tinha o nome do meu primeiro ex-quase namorado, e olhem que não é um nome lá muito comum, e que sabia escrever - e como escrevia bem, o filho da mãe! Desarmou-me pelo meu ponto mais erógeno, o cérebro, e entre tanta coincidência e gosto comum não nos tornámos amigos de infância porque, enfim, já não íamos a tempo.

Só que, mesmo quando cativado, eu não deixo de ficar atento e havia nas entrelinhas pequenas pistas semeadas que me perturbavam sobremaneira: percebi, por exemplo, que a relação de que ele queria tanto sair - ou não, não cheguei a entender... - tinha alguns contornos bizarros, quase doentios... Fiquei de sobreaviso. Ai, como quem não queria a coisa, começou a dança do acasalamento com pérolas do género "Estou com vontade de te despentear, no sentido literal" ou "Tou com uma insónia de todo o tamanho (...) Eu não devia escrever-te à uma e tal da manhã, n'est-ce pas? O que é que o Oz vai pensar do F.? Don't let him know that you are alone, thinking of him in the middle of the night...".

Tinha uma certa graça, ou por outra, eu achava uma certa graça àquela corte à luz das velas, embora na altura, verdade seja dita, eu andasse entretido a teclar madrugada fora com o ninfeto formado em Literatura Clássica (outro académico... o Latinha bem sabe o que diz...) - que grande sacana, pensei eu, afinal também sou capaz de agir como um sacana!, e quase rebentei de orgulho. Mas, à medida que se aproximava a passos largos o momento em que íamos ficar face to face, a luz vermelha começou a piscar e não mais parou; vai ele e atira à queima-roupa: "Mas já agora, há algumas coisas sobre mim que talvez seja melhor saberes antes que se torne ou irrelevante ou complicado de falar delas. Não me dou assim muito bem com homens que têm o culto excessivo dos banhos e dos produtos de higiene, um pouco como as mulheres têm (...) O que eu quero dizer é que, para mim, um homem é um homem, o seu estado mais atraente é o seu estado natural, com pelos e cheiro a «suor, mijo e esperma», para citar a fórmula do Perfume".

Okay, pensei, sou um tipo arejado, deixa-me cá não levar isto ao pé da letra e dar o devido desconto semântico. Só que ele voltou à carga para desfazer as dúvidas: "Se for for meu amante, a única coisa que eu peço é que me deixe também usufruir do seu corpo (e da sua roupa interior) quando está com cheiro a homem".

Nessa altura, acabaram-se igualmente as minhas dúvidas: este gajo não me apanha entre os lençóis, eis a minha sentença. Tenho-me, no entanto, na conta de um tipo que sabe separar as águas. Pensei, na minha santa ingenuidade - e eu todo ufano por, ao mesmo tempo que lhe dizia talvez, manter outras opções em aberto... -, que cada um sabe do que gosta e que, chegados àquele ponto, seria um desperdício descartar um fulano que poderia vir a ser um amigo - se um amigo sente gozo em ir para a cama com homens a cheirar a cavalo e em snifar cuecas meladas, posso até torcer o nariz, mas é lá com ele!

Escusado será dizer que o trovador não queria amigo porra nenhuma. Ele queria mesmo era um gajo que alinhasse na rambóia. Assim que percebeu que eu sou lavadinho e não dou as minhas cuecas a cheirar, não deu parte de fraco, mas não perdeu tempo a mandar-me umas linhas, sempre em prosa elegante, já não mais a querer despentear-me, mas a despachar-me, literalmente é claro.

Toma e embrulha. Tão cedo, se esta me serviu de lição, não me volto a meter com alguém que não seja do meu tamanho...