29.9.08

A Vida Dupla de Oz


When I'm drivin' in my car
And that man comes on the radio
He's tellin' me more and more
About some useless information
Supposed to fire my imagination
I can't get no, oh no no no

(Satisfaction
, PJ Harvey e Björk)


O título, roubei-o descaradamente a um dos filmes que mais gosto de Kieślowski ― paz à sua alma ―, mas acabam-se aqui as semelhanças de enredo. Apenas senti necessidade, na semana que passou, de me desdobrar em mais um alter-ego. Como Oz passei a ter um percurso, ganhei uma história e carrego todo um atrelado de emoções que não quero expor (já) a algumas pessoas que estão apenas agora a chegar à minha vida [e chegar não é força de expressão; o mais certo é que algumas, senão mesmo a maioria, não passe da soleira da porta].

Não sofro de múltipla personalidade; tão pouco sou adepto do embuste. Quando crio um petit nom encaro o mesmo como um desdobramento do todo. É uma forma de revelar apenas uma parte do que sou ― a parte que (me) interessa mostrar. Não o sinto como algo desonesto, tanto que não me torno uma pessoa diferente, não arranjo outra profissão, não me reinvento fisicamente nem passo a defender outras ideias que não as minhas. Sou sempre eu, não por inteiro, mas sempre eu.

Dizia eu então que senti necessidade de me aventurar para fora de pé. Não é uma sensação agradável ― sobretudo para quem, como eu, é avesso a abandonar a sua esfera habitual de conforto ―, mas nem sempre podemos jogar (só) pelo seguro e há que ter cojones para saber admitir quando a nossa teimosia nos atolou num impasse. E, verdade seja dita, nem me desagrada de todo a ideia de me pôr novamente "A Caminho de Idaho". Há um lado lúbrico ― que passa pela adrenalina de ter de fazer escolhas, acertadas ou precipitadas, com base no pouco que também me é dado a ver ― muito revigorante. É uma forma de poder e o poder, quando bem administrado, funciona como afrodisíaco.

De toda a forma, mesmo disposto a sair dos meus domínios, há linhas que procuro não pisar. Curiosamente, uma delas coloca-me, logo à partida, um pouco à margem da dominante masculina, que acha extremamente vantajoso, até onde consigo perceber, o facto de nós, homens, nos podermos relacionar sexualmente sem rodeios e sem ter de apelar muito à imaginação. Queremos sexo, então nada melhor do que dizer ao que vimos. Nada contra, penso até que se evitam assim muitos equívocos ― eu, da primeira vez, por exemplo, tive de ganhar coragem para me certificar como as coisas se iam passar e recebi como resposta um indignado “Mas ainda nem fomos para a cama e já me queres limitar a um papel?”; para não falar de um amigo que ainda há pouco tempo voltou frustrado de um encontro porque, sem terem falado primeiro, chegados à hora H, nenhum dos dois quis, como direi sem ferir susceptibilidades? (a dele, não a vossa), ser o primeiro a dar-se ao manifesto.

Não tenho nada contra, mas também não rezo por essa cartilha. Não sou pudico e, por mais de uma vez até, tentei ir por essa via, mas esse ritual primário do "sou isto-quero aquilo, tenho isto-quero aquilo, dou isto-quero aquilo" não me dá tesão. Pode ser prático, pode mesmo ser coisa de macho, mas não é para mim. Não me excita o óbvio, o que querem que faça. Mas, como disse antes, a limitação é minha. Estou em minoria, eu sei, mas estou longe de ser uma ave rara. Por incrível que (vos) pareça, encontro sempre, aqui e acolá, espécimes semelhantes ― alguns gostam de se fazer passar por, na esperança de levarem água ao bico, mas não os condeno, que a vida está difícil e há gajos, como eu, que ainda gostam de complicar.

I can't get no satisfaction 'cause I try and I try and I try and I try… Mas quando se trata de obter o meu prazer, eu não sou homem de baixar os braços (nem os braços, nem o resto). Oh, no no no

22.9.08

It's on the house


Got no boundaries and no limits
If there's excitement, put me in it
If it's against the law, arrest me
If you can handle it, undress me

(Give It 2 Me, Madonna)


Não há mal [nem neura] que dure muito por estes lados. Na manhã seguinte ao post anterior já o meu safe mode estava activado, pelo que senti um leve embaraço ao reler certas passagens... Bom sinal, pensei, mas não retoquei uma vírgula que fosse. Arrependo-me, talvez, de algumas coisas que fiz (de outras tantas que deixei de fazer, também), mas não do que (e como) escrevi. Foi um momento catártico [o meu momento catártico] e como tal não totalmente isento de exagero. Mas até isso, no devido contexto, eu encaro como parte do processo de desintoxicação. Entendo sem culpa que estou sujeito a fraquejar de quando em vez, mas enxoto com veemência a auto-comiseração. Carpir mágoas e acusar o universo de estar a conspirar contra mim não faz parte do meu repertório, por isso mesmo, logo que pude, lambi as feridas, arejei as ideias e retomei a vida. Só não me apressei, como tinha prometido, a colar os cacos - juntei-os, para não me estorvarem, e tenho estado a olhar para eles, indeciso entre voltar à forma antiga ou arriscar um novo formato...
Expiada a crise existencial, devo dizer-vos que a minha semana não correu nada mal: não deixei de ir suar as estopinhas no ginásio (aproveitei até o facto de ter um cartão de membro que me permite mudar de pouso para ir "lavar a vista" fora dos domínios usuais, mas isso é assunto, quem sabe, para outro post), comecei um novo curso, estou a organizar mais uma viagem de trabalho, almocei a meio da semana com vista para o rio, reservei parte de uma noite para rever Breakfast at Tiffany's e recebi mimo de vários amigos, o que, além de me aconchegar, ajudou a sossegar o ego fragilizado.
Sexta à noite, reencontrei o Will. Pois o Will, tão despachado que me chega a deixar cansado só de ler tudo o que é capaz de fazer num único dia, passou o Verão em estado de graça. Está apaixonado e não o esconde de quem se quiser dar ao trabalho de reparar. Cumprida a habitual ronda de má-língua, emendámos a happy hour com o jantar, o que permitiu ao F. se juntar a nós. Foi um serão agradável, ainda mais porque era suporto irmos à abertura do Queer Festival. Conversa vai, conversa vem, o certo é que perdemos a hora e tivemos de escolher, à pressa e ali mesmo, um filme qualquer para ver... O Will, que não é nada distraído, bateu os olhos nos dois rapazes em cuecas do cartaz, ponderou as implicações do título Gomorra e deve ter pensado "Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé". Eu que já tinha lido a sinopse - e sabia por isso tratar-se de um retrato a sangue-frio, muito cru, das máfias que controlam Nápoles, no sul de Itália - percebi logo que não íamos ter sorte nenhuma, mas deixei que fossemos ao engano. No final, acabei por me prender à estória, mas era notório o ar francamente desapontado de outros rapazes à saída... Hummm, aposto, só por vergonha alguns deles não foram dar queixa por publicidade enganosa [e o mesmo deve estar a pensar quem viu a foto de abertura deste post - by the way, se alguém conhecer o paradeiro do rapaz tatuado na coxa, faça-me a fineza de lhe comunicar que dou tecto, cama, roupa lavada, férias e décimo terceiro - e se deu ao trabalho de ler até ao final! Quem manda...]

16.9.08

Purga


So now for restless mind, I could go either way
(Don’t Bring Me Down, Sia)


Há já alguns dias que trazia este post alinhavado mentalmente e ia ser no meu melhor estilo leve-solto-e-não-sou-de-jogar-fora. Entre outras ligeirezas, ia falar do meu cabeleireiro, tema recorrente (para verem a importância que dou ao meu cabelo), que está cada vez mais abichanado para o meu lado, sem que eu consiga perceber se isso é bom ou mau sinal, e das massagens no escalpe para amansar o pêlo que ali recebo, uma maneira de compensar o tempo (o imenso tempo) de espera até o rapaz me colocar, salvo seja, as mãos em cima; ia falar do jovem actor, apareceu numa altura em que eu ainda estava descabelado (o que não é lá muito justo), com quem troquei olhares furtivos, a quem cobicei as botas e a quem invejei o físico; ia falar do Nanolift, que anunciam como uma espécie de "milagre" da cosmética (mais um), um cocktail pós-injecção, pós-laser, pós-cirurgia, pós-peeling, perfeito, dizem, para acabar com os pés-de-galinha à volta dos olhos; ia falar do estado catatónico em que andei, ao ponto de me rever em cada letra de música; ia falar de Before the Devil Knows You're Dead, um filme denso, (a)moral, onde Philip Seymour Hoffman (Capote, Magnolia...) é, mais uma vez, portentoso; ia falar do tipo, belíssimo exemplar com o seu quê de animal exótico, com quem tive uma espécie de encontro imediato, não fossem os sacos de compras (dele) e do ginásio (meu) terem atrapalhado a mobilidade.
Ia falar de tudo isso, e talvez ainda de uma ou outra insignificância de que me lembrasse à última da hora, mas já não vou. A minha semana começou mal. Minto. Não começou, porque, de certa forma, o que aconteceu assemelhou-se mais à última gota que faz transbordar o copo. Há um bom tempo que não ando nada bem; há um bom tempo que não gosto nada do rumo que a minha vida tomou. Só que, como tenho imensa dificuldade em dar parte de fraco, fui tratando de sacudir a poeira para debaixo do tapete. Permiti-me, de vez em quando, aqui e acolá, um grito de raiva, um desabafo. Mas nunca foi o suficiente para exorcizar os (meus) demónios.
O golpe de misericórdia, que me atingiu como se tivesse sido atropelado por um camião, chegou sob a forma de uma ruptura penosa. Uma ruptura que eu não fui capaz de fazer, de maneira definitiva e de forma a não deixar qualquer porta entreaberta, lá atrás. Permiti que a situação se arrastasse muito para lá do razoável - sei lá se por ingenuidade; sei lá se por vaidade oca de saber alguém incapaz de me esquecer; sei lá se por não saber dizer não taxativamente; sei lá - e agora isso tornou-me co-responsável deste desfecho triste. No fundo, deveria sentir-me aliviado, porque acabou de vez, mas não consigo ser egoísta e frio ao ponto de saber alguém de quem gostei mal sem que isso não me atinja também por tabela.
Sou cabeça dura; mesmo na merda, eu insisto sempre em extrair alguma coisa de positivo, na lógica do "há males que vêm por bem". Ao ter caído finalmente por terra, com os meus cacos espalhados por tudo o que é canto da sala, eu não tenho mais como seguir como se nada fosse - não me parece mal que assim seja. Mais: desta vez, não vou a correr juntar todos os pedaços para os colar à pressa, sempre na esperança bacoca de que, se me esforçar, ninguém vai perceber que estou remendado.
Preciso admitir, por muito que me doa, que não estou feliz. E não estou feliz porque, ao contrário de outras áreas que sempre consegui controlar, a minha vida sentimental é um barco à deriva. Choca-me perceber, eu que sempre fui tão racional (e talvez seja esse um dos problemas, o ser racional quando devia ser emotivo), que tenho uma propensão inegável para envolvimentos complicados - nunca me dou por inteiro a quem se apaixona por mim, antes me aproximo de quem nunca se vai apaixonar por mim. As minhas relações, além de incompletas, são desequilibradas. Constatar que isto se tornou um padrão é para mim igual a levar um soco no estômago, pois sempre me tive na conta de alguém difícil, mas, ainda assim, equilibrado. Que atracção é esta pelo abismo, pelo improvável, pelo que está fora de alcance? É masoquismo? É autodefesa? É auto-boicote? O que eu ganho, que prazer é que eu tiro de relações em que sou usado para tapar a solidão e a carência?
Não tenho resposta para nenhuma destas perguntas. Ou tenho, mas não são as certas. Não estou habituado a não saber que rumo dar à minha vida. Não estou habituado a sentir-me impotente quando se trata de me regenerar. Preciso de uma purga, mas esta não é daquelas que vai lá com uma crise de choro homérica para lavar a alma. Estou ferido, preciso sarar. Estou perdido, preciso parar e ter a humildade de pedir ajuda para achar o caminho. Sozinho não vou lá. Por ora, só me permito uma certeza: eu vou sair desta. Pode demorar, mas eu vou sair desta. E a cada música de Sia que escuto, melhoro um pouco, porque, perdõem-me a presunção, todas foram escritas para mim.

10.9.08

On


Sometimes, when I look deep in your eyes, I swear I can see your soul
(Sometimes, James)


Encontro marcado na Maria Caxuxa. Já vou um pouco atrasado, mas, de nada me adianta apressar o passo, pois fico retido no mar de gente que se espraia entre o Clube da Esquina, na rua da Barroca, e o Portas Largas, já na Atalaia. Decididamente, a rapaziada tomou conta do lugar e, a cada semana, vai um pouco mais além na demarcação invisível da "coutada de caça" a céu aberto. Nada de muito explícito, ou escrachado, mas suficientemente claro para não "levar gato por lebre" ― if you know what I mean... É a Lisboa gay no seu melhor.

Estão de tal forma entretidos uns com os outros que, para abrir caminho, quase sou obrigado a dar braçadas… No auge do aperto, vem-me à cabeça “Well the men come in these places / And the men are all the same / You don`t look at their faces / And you don`t ask their names”. Não seria o caso de perguntar nomes, mas, admito, ao fintar um ou outro de mais perto, bem que me apeteceu anotar uns quantos números de telefone… Deixa quieto. A calçada frente à Maria Caxuxa está, ligeiramente, mais desafogada. Os meus amigos lá estão, de copo na mão e sorriso escancarado.

Dali vamos para o Majong, na rua de cima, que, a partir das duas, começa a encher graças ao DJ de serviço. O Majong, já o disse aqui, não tem grandes segredos para mim ― há anos que o frequento. Uma das minhas amigas ficou de encontrar ali o Jose, um espanhol que vive e trabalha há muito anos em Lisboa. Jose é uma figura. Já fala fluentemente português e incorporou a nossa gíria, mas não perdeu ― nem há-de perder ― o seu forte sotaque castelhano. Da primeira vez que o vi, de raspão e neste mesmo bar, fiquei com a séria impressão de que o rapaz pertencia ao “clube da esquina”. De toda a forma, nunca me fio muito no meu gaydar. Desta vez, porém, reparei nos anéis e nas pulseiras e pensei com os meus botões: hummmmmm…. Mas ele não dá “pinta”. Passado mais um bocado, um outro amigo da minha amiga puxa de uma canga trazida da Tailândia, que o Jose terá supostamente pedido, e o rapaz, radiante, pergunta-nos: “não fico muito ‘bichona’?” Hummmmmmmmmmm…

A confirmação chega quando já não me restavam mais dúvidas. Ao falar-se de orkut, de hi5 e afins, Jose torce o nariz e diz que prefere logo ir directo aos “lugares da Net que têm mais a ver com a minha [sua] espécie”. Bingo! A partir dai, o agent provocateur fica em modo on. Interrogo-me se a recíproca é verdadeira e também ele accionou o seu gaydar… A noite (pros)segue sem sobressaltos. Na hora da despedida, que Jose não está para chegar de novo a casa de manhã, estende-me a mão e solta: “gostei de te conhecer rapaz!”. Permitimo-nos, por breves momentos, um olhar a direito. O último teaser da noite em jeito de “às vezes, quando ficamos olho no olho, juro, sou até capaz de ter ver (d)o avesso”.

4.9.08

Romeo's blues


Well, you can fall for chains of silver, you can fall for chains of gold
You can fall for pretty strangers and the promises they hold
You promised me everything, you promised me thick and thin
Now you just say, "Oh, Romeo, yeah, you know
I used to have a scene with him"

(Romeo and Juliet, The Killers)


Esta semana assisti, finalmente, à cena em que Kevin e Scotty, em
Brothers and Sisters, celebram, perante a família e amigos, a sua união de facto. Não é segredo para ninguém que lê este blogue há já algum tempo que acompanho esta série norte-americana da ABC e que, de quando em vez, me dá para a comentar aqui. Desta feita, confesso sem pudor, deixei rolar algumas lágrimas. Acho que chorei mais pela forma do que pelo conteúdo. Passo a explicar. Comovi-me mais pela forma como as reacções dos vários intervenientes foram tratadas do que propriamente pelo acto em si.
Preciso ser honesto: casar com outro homem, ou até mesmo morar junto, é algo que não enxergo, a curto prazo, no meu horizonte. Nem sei se algum dia estará nos meus planos. E não é por falta de bons exemplos, que entre os meus amigos mais recentes tenho, pelo menos, duas uniões que me merecem o maior respeito e admiração por tudo o que já conseguiram e ainda hão-de viver. Não tem, até onde imagino, é muito a ver comigo.
Na verdade, não sei se estarei fadado para o casamento ou para uma vida a dois que exija coabitação... Suspeito que já atingi aquele patamar de egoísmo - ou de solteirice aguda, se preferirem, a que os franceses apelidam pomposamente de célibataire endurci - em que se torna difícil a ideia de partilhar o espaço e de conviver diariamente, e de muito perto, com outras manias que não as minhas... Sim, porque já a ideia de adormecer e acordar com outra pessoa ao lado é-me simpática - aliás, acho deliciosa a sensação de adormecer e acordar abraçado a quem se gosta.
Seja como for, sinto falta de me apaixonar. Apaixonar para valer. Se eu for dar ouvidos ao que vaticina o meu horóscopo - sou pragmático, mas leio horóscopo -, esta é uma semana "daquelas". De facto, está a ser uma semana "daquelas", não só pelo trabalho acumulado que tento despachar à custa de apenas três horas de sono por noite, mas porque tive de oferecer a minha amizade a dois homens que são, cada um à sua maneira, importantes para mim. Um, porque acho que não vai dar certo; o outro, porque acho que não deu certo. Nenhuma destas decisões é totalmente definitiva, mas foram pensadas, mastigadas... Ainda assim, sou sempre acusado de as tomar de forma fria e excessivamente racional, como se para mim lidar com os sentimentos, os meus e os dos outros, fosse tão fácil como beber um copo de água.
Não é, mas algo está, porventura, errado na forma como eu me dou a ver aos outros, já que este é um erro recorrente quando avalio o meu trajecto sentimental. O facto de eu não gostar de idealizar quem está ao meu lado - porque para mim, gostar de alguém implica eu admirar as suas qualidades, mas também ser capaz de identificar e de viver com os seus defeitos - sempre me trouxe problemas. No amor como na amizade. Passo por alguém cru, quando não mesmo cruel, que coloca nas relações uma dose exagerada de realismo e por isso cria insegurança na outra parte. E é ai, mais ou menos por essa altura, que deixo de ser eu - com todas as minhas fraquezas, incoerências, imperfeições - aos olhos do outro para passar a ser um ideal de honestidade que as pessoas admiram, mas temem. Um ideal a que eu não tenho como corresponder. Um ideal a que eu, suprema das ironias, nunca quis ser associado. Porque tudo o que eu procuro é alguém que seja capaz de me amar pelo que sou e não por aquilo que projecto. Alguém para quem eu não tenha de fingir que sou perfeito, quando a perfeição, stricto sensu, nunca me interessou.