Hey mister
How did you lose your love?
Say mister
They say you’re out of luck
Why worry
‘Cause it happens to us all
When love is all
Love is no more
Praying for your love
Keep on praying for your love.
(Praying, 3-11 Porter)
Porque, por vezes, é preciso contar o reverso da estória.
Inclemente, um jorro de luz macilenta acerta em cheio no meu rosto. Cego por aquela claridade furtiva, demoro algum tempo até ser capaz de distinguir, com nitidez pelo menos, a tua silhueta esguia desenhada a carvão na janela de cortinas escancaradas. Arrepio-me ao sentir os teus pêlos eriçados pelo frio; ainda assim, saio da cama. O teu olhar paira sobre os telhados de Paris, mas algo na tua postura absorta me diz que já voaste para mais longe. Mal dás por mim quando te enlaço pela cintura. Ficamos pele com pele. Carrego comigo a esperança de que o meu calor te inunde e te devolva aos meus braços, mas tu insistes em permanecer fora de pé. No meu desamparo, cerro os olhos e deixo-me ficar. De queixo pousado no teu ombro. Desejo em vão que o tempo pare de correr neste preciso instante. Até que te viras. É a minha vez de me fingir de morto. Não consigo encarar-te. Não quero ser obrigado a confrontar-me com aquilo que jamais terás a coragem de me dizer, mas que há muito pressinto nos teus gestos. Como um condenado, ofereço-te instintivamente a minha boca, na tentativa desesperada de te silenciar e adiar o desfecho inevitável; mesmo que para isso a minha agonia se prolongue. Não te demoras muito nos meus lábios. Num ímpeto, arrasto-te pela mão até à cama, onde as formas dos nossos corpos aguardam que as preenchemos novamente. A tudo obedeces como um autómato. Mesmo quando eu, torpe, me lanço sobre ti e, sem controlar a minha sofreguidão, te percorro de lés a lés. Mais do que te dar prazer, procuro, desvairadamente, algo que possa reter e servir-me de consolo quando tiveres partido. Ergo-me por entre as tuas coxas; não tenho mais como não enxergar o que dispensa todas as palavras. Esfrego nas mãos o teu despojo, para que se entranhe, mas o teu corpo já não me pertence mais. A muito custo, abafo os primeiros soluços, mas um carreiro de lágrimas começa a engrossar e não tardará a despencar. Hesito entre a retirada estratégica, que se impõe, ou abandonar de vez o orgulho, o pouco que ainda me resta, lançar-me aos teus pés e suplicar-te que não vás. Incapaz de travar por muito mais o choro que me dilacera a garganta, resigno-me a deixar-te ir sem oferecer resistência. Estou mesmo disposto a facilitar-te ao máximo a fuga. No que depender de mim, esta é só mais uma manhã igual a tantas outras que já tivemos. Levanto-me com o pretexto de ir tomar banho. Volto-me uma última vez, mas os meus olhos não encontram os teus. Melhor assim. Fecho a porta da casa de banho, ponho a água a correr, mas não entro no chuveiro. Fico antes agachado a um canto, anestesiado sem sentir o chão gelado, e a rogar para que o meu pranto me impeça de te ouvir quando bateres a porta.
10 comentários:
Que texto maneiro...
Adorei a idéia de mostrar o reverso da medalha! Fiquei com peninha do tiozinho... :-( :-)
Bom, sou fã confesso dos teus textos, já deixei isso registrado aqui... confesso que vez por outro tenho medo deles ehehehe
Em qualquer situação é sempre importante ver os "dois lados" da moeda. Mas confesso que mais uma vez, reflexões pipocam a minha mente.
Abraço!
Este reverso toca, caro Oz. Muito.
Partir porque se deixou secar algo não é fácil, mas ser forçado a partir quando ainda se ama é pior: magoa.
Um excelente texto: li, li e reli!
Espantoso, parabéns! Esta descrição de como o sexo mecânico pode ser o que sobra do que já foi amor... Ou, pelo menos, foi assim que o recebi... Abraço grande!
passei aki por acaso e gostei de alguns dos teus txt's... voltarei mais vezes de certeza.
Ja agora, escolheste uma imagem gira pa este txt lol
abraco
fica bem
se colocar na posição do outro é a melhor maneira para enxergar uma situação...
huahuah adorei o texto bjo... e to com saudade
ai
doeu em mim
gentee que texto mais lindo!
lindo, tristemente belo!!!
que sensação angustiante quando percebemos que o nosso amor já não é mais correspondido...
o silêncio histérico que paira no ar. O toque cego e seco que resta....
conversar com vc é sempre um prazer
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