25.5.09

Amuse-bouche

The Prophecy, by Aymeric Giraudel


Para o final da semana, prometo um pouco mais de prosa, mas, para já, distraiam as vistas com o trabalho do fotógrafo Aymeric Giraudel (como música de fundo The Beast Within, de Madonna). Se acham a fotografia acima sugestiva, esperem até ver o vídeo da mesma... Aqui

11.5.09

Passar a mão pelo pêlo



Well somebody told me
You had a boyfriend
Who looked like a girlfriend
That I had in February of last year
It's not confidential
I've got potential
(Somebody Told Me, The Killers)


A meio da missiva, ele arma o laço já sem sequer se dar ao trabalho de disfarçar ao que está:
- "Pareces-me um belo espécime de puro lusitano."

Era suposto, acho, ter ficado envaidecido. De bola cheia. Em vez disso, fiquei a pensar que, definitivamente, não é por ai que me vão ver arreado. Mais. Se é para me domar, é bom que o encantador de cavalos saiba pronunciar as palavras certas. E ser tratado como um puro-sangue em dia de feira, a quem só falta, já agora, arreganhar os dentes, não me amolece, nem abranda o trote. Antes faz com que dispare, estrategicamente, em retirada.

4.5.09

Clones



I think I saw you in the shadows
I move in closer beneath your windows
Who would suspect me of this rapture?
(Black Hearted Love, PJ Harvey and John Parish)


Hi5, orkut, facebook, twitter... A todas elas eu torcia o nariz, mas, instigado por amigos ou pela curiosidade, a desconfiança inicial, justificada ou não, acabou por abrir brechas. Não veio dai mal ao mundo, pensei quando cedi pela primeira vez... Só que a tentação de espreitar pelo buraco da fechadura é uma coisa lixada - diria mesmo que perversa - e, de cedência em cedência, só praticamente o hi5 não me levou a melhor até hoje.

O que fazer quando a fraqueza humana, mais do que sugerida ou permitida, é estimulada, induzida? Nos últimos tempos, confesso, não resisti a espreitar a várias janelas no cada vez mais escancarado universo rainbow. Fi-lo não tanto movido pelo instinto de caça - embora também não esteja acima de suspeita -, mas mais pela adrenalina de poder andar por ali a bisbilhotar à vontade, sem compromisso e sem culpa - porque o risco de passarmos nós a ser o alvo da curiosidade alheia faz, desde logo, por muitas precauções que se tome, parte das premissas do jogo.

Nem fui mais longe, fiquei-me apenas pela rede portuguesa do facebook. Primeira conclusão óbvia: a avaliar pela amostra, não se pode chamar universo ao que não passa de uma aldeia. Se (ainda) não se conhecem todos, a rapaziada de uma certa comunidade gay imita muito bem. Chega a ser assustadora a facilidade de encontrar quem se procura - e quem se acha sem estarmos sequer à procura... Adiante. Próximo reparo: fico pasmo com a quantidade de gajos po-dres de bons no pequeno burgo de Lisboa e arredores (onde é que se escondem, durante o dia, essas criaturas?). Nem é que sejam todos bonitos, muitos têm é corpos de fazer inveja (inveja a tipos como eu, entenda-se, que não passo da cepa torta apesar das boas intenções...).

Como não é um meio onde me mova ou interaja, qualquer que fosse a direcção seguida, eu sentir-me-ia, inevitavelmente, um penetra num clube só para sócios. Guiei-me na minha busca por algumas referências, não só estéticas, que pudessem ser comuns e fiquei, não digo surpreso, mas intrigado quando, independentemente da profissão ou do nível intelectual - e sim, tenho plena consciência de que, ao ligar-me a estas variáveis, já estou a fazer um (pré)julgamento -, 8 (vá lá, 7) em cada 10 gajos parecem gémeos idênticos... O mesmo tipo de compleição física (com cinturas de vespa capazes de fazer inveja a muita menina e quase invariavelmente depilados de alto a baixo), de corte de cabelo, de acessórios (com destaque para os óculos de aviador, as camisas cintadas e as t-shirts com decote em V coladas à silhueta), de poses e até de cenários [das boates Frágil ou Lux até às mo(á)vidas de Ibiza ou Miami]...

Dá que pensar... Sobretudo, quando eu, repito, me tenho mantido à margem de toda esta realidade paralela e, ainda assim, já me reconheço nalguns (não todos, felizmente) tiques. M-E-D-O.