14.10.07

Restart

Por Piero Fornasetti


Birds flying high
You know how I feel
Sun in the sky
You know how I feel
Breeze driftin' on by
You know how I feel
It's a new dawn
It's a new day
It's a new life
For me
And I'm feeling good

(Feeling Good, por Michael Bublé)


A cena repete-se. Eu, a televisão e umas quantas personagens que, de quando em vez, deixo entrar em casa, com direito, conforme o caso, a partilharem o sofá ou a cama comigo. Tenho particular predilecção pelas que, entre gargalhadas, me conseguem fazer pensar na vida. Como aconteceu uma noite destas:
Dois homens num restaurante discutem a relação.
(até aqui nada de novo; raros são os seriados que agora dispensam os gays nos seus enredos)

Um deles brinca e diz que nem teve de se preocupar em sair do armário, pois sempre se soube gay. E os outros à sua volta também.
(por essa altura eu já tinha decidido que era o outro, o que, pelo canto do olho, não parava de ver se as pessoas da mesa ao lado estavam a reparar neles ou a tomar atenção na conversa…)

Não satisfeito, resolve cutucar o seu companheiro e dispara à queima-roupa: “aposto que tu foste daqueles que demoram imenso tempo a assumir-se!”
(decididamente eu era o outro, o encurralado entre a pergunta incómoda e o desconforto de poder estar a ser alvo da curiosidade alheia…)

Mas eis que se sai com uma resposta de truz: “realmente demorei um bocado a tomar consciência de que era gay. Afinal, não nasci a gostar de musicais nem a perceber logo de roupa”.
(rejubilei triunfante… quando parecia que ia jogar a toalha no chão e balbuciar uma desculpa mal amanhada, ele mostrou-se à altura! Sempre dá muito jeito ter uma equipa de roteiristas a trabalhar as nossas falas!)

(Pausa para pensar no assunto)

Os musicais, dispenso-os. Faço parte dos zilhões que viram Cats ― mas em minha defesa posso sempre alegar que o meu (bom) gosto estava então ainda em fase imberbe... ―, vi O Fantasma da Ópera porque me obrigaram (!), mas quando tive a oportunidade de ir pela primeira vez à Broadway, vinguei-me. A maioria do grupo queria ir assistir a um dos musicais em cartaz, mas eu fui antes aplaudir a Natalie Portman, na altura uma miúda com ares de Lolita, que estava em cena numa versão teatral do Diário de Anne Frank. Escusado será dizer que me gabo disso até hoje…

Quanto à roupa… tenho dias. O certo é que ainda há bem pouco tempo, decidido a renovar o meu estoque de roupa interior, fui ao Corte Inglès. Gosto de ir ali por ser um espaço multimarca, mas, regra geral, o mais certo é ir direito à secção da Calvin Klein, onde escolho o modelo de sempre, nas cores de sempre: preto, branco e cinzento. Desta vez, porém, e porque a ocasião o pedia, resolvi “variar”. Não foi fácil, mas lá arrisquei nuns modelos da nova colecção ― para os mais distraídos: sim, também há novas colecções e tendências nas cuecas de homem! ―, com especial destaque para uns trunk encarnados ― os que estão a torcer o nariz, pensem duas vezes, pois não só o modelo fez sucesso entre quatro paredes, como se portou à altura num momento inspirado em que resolvi partilhar as tarefas domésticas e varrer logo pela manhã o chão da cozinha nestes preparos!

6 comentários:

RIC disse...

... Como terminava, há anos, uma anedota: «S. Mateus, capítulo 16!» Ou seja, «segue, meu filho, que vais pelo bom caminho!» :-)
E para meu espanto, acertei! Quando começaste a falar nas novas colecções, foi no encarnado que pensei... Porquê? Nem imagino!...
Por mim, continuo a leste das tendências... Mas isso é claramente problema meu, de mais ninguém!
Resta-me desejar-te boa viagem neste novo espaço e que de facto a matemática não dê cartas... (Nunca prestei para nada a demonstrar teoremas...)
Um forte abraço! :-)

Latinha disse...

Ufa! Por um minuto senti um gelado me percorrer o sangue ao ver a figura no outro post. Felizmente, continuaremos com "O Teorema de Oz".

Então, confesso que nunca parei para fazer tal análise, continuo seguindo o mesmo padrão, ehehehe. Bom, tem umas que fogem o padrão e tem umas que são para ocasiões especiais. Mas digamos que eu seja "tradicional" ehehehe

Mas essa é a vantagem em ser um "Latinha" não há porque se preocupar com certos detalhes. ;-)

Nos vemos por ai. Boa sorte!

Maurice disse...

Ah... afinal vou poder mandar "bitaites"... :)

Sempre fui um "gay" atípico, de modo que, se calhar, nem sou gay... Acho que ler-te me está a deixar em crise de identidade! :)

Forte abraco

Poison disse...

Uhuuuuuuuuuuuuu!!!
Arrasou!!!
Muito legal!!! A nova fase, o novo layout e principalmente o novo "clima" do Teorema... dá pra sentir no ar que estás "na boa"!!! Muito legal!!!
Mas se entendi bem... varrer a casa de Calvin Klein?!?!? Luxo puro!!! Hehehehe!!! Vou querer um desses, que use Aussiebum ou Cavalera... hahahaha!!!
Abraços e sucesso no novo projeto!!!!

João Roque disse...

Foi uma surpresa muito agradável, ao chegar aqui, e por várias razões: um layout muito bonito e simples, uma possibilidade de fazer comentários, contràriamente ao que pensava, depois de ler os comentários ao teu último post das "Metamorfozes" (daí eu ter usado a metáfora, sugerida por ti, da "porta" e da "janela"); e «last, but not the least», um estilo de escrita, que embora centrado no teu "eu", está mais aberto ao mundo, está mais "vermelho" , como a cor das tuas novas cuecas, para fugir à rotina do preto, cinza e branco...aguardemos os novos posts.
Numa coisa não mudaste, um belo estilo de escrita.
Abraço, e benvindo à blogosfera, eheheheheh.

Manuel Braga Serrano disse...

Obrigado pela gargalhada. Também eu, durante anos, andei a matutar sobre o raio de homossexual que seria eu, visto que, não tinha (nem tenho)pachorra para musicais nem para trapos. E ainda hoje sou gozado por não saber a coreografia do YMCA dos Village People ou, como digo quase sempre por engano, Village Voice!!