1.4.08

Retrato-robô


The teenage queen,
the loaded gun;
The drop dead dream,
the Chosen One
A southern drawl, a world unseen;
A city wall and a trampoline
(
Read My Mind, The Killers)


Há dias, ao abrir a caixa de correio electrónico associado a este blogue, deparei-me com uma missiva de remetente misterioso que dizia apenas isto, depois do seguinte cabeçalho "We're off to see the wizard, the wizard of Oz":

“Só para deixar um comentário de apreciação pelo bom gosto musical, pelas palavras, suaves, pensadas e ecléticas; por apenas”

Os mais cépticos – entre os quais eu cerro, não raras vezes, fileiras – dirão não se tratar de um procedimento inteiramente inocente e que há nele uma intenção disfarçada de aguçar primeiro a minha vaidade, depois a minha curiosidade. Talvez seja. Mas resolvi não o entender assim.

Em meados de Março fez um ano que, aos vários desdobramentos da minha personalidade – porque eu sempre acreditei que podemos ser vários sem deixarmos de ser um só - , resolvi dar voz ao Oz - não se assustem, não sofro do síndroma de Napoleão e no dia em que começar a falar do Oz na terceira pessoa do singular, como se de uma entidade separada se tratasse, podem meter-me na camisa de forças. O Oz sou eu, sempre fui, mas sou eu em partes. Nas partes em que me predisponho a reflectir sobre a minha sexualidade e tudo que a ela diz, directa ou indirectamente, respeito.

É claro que, muitas vezes, ao longo deste último ano, me interroguei sobre a imagem que estava a construir aos olhos dos que me lêem sem ter acesso a mais nada da minha vida que os ajude a preencher os contornos do retrato-robô... Como me imaginam? Que leituras fazem nas entrelinhas? Que tipo de sentimentos desperto?

Não foi algo que premeditei ou que tão pouco estimulei, mas, sem nunca abdicar de me resguardar – mas também sem fazer disso um segredo de estado ou uma esquizofrenia -, aos poucos tenho cedido à curiosidade – natural, eu acho -de querer descobrir mais sobre determinadas pessoas que se escondem, tal como eu, atrás de um alter-ego; da mesma forma, tenho vindo a permitir que algumas dessas pessoas descubram também um pouco mais do que sou para lá do que apenas cabe aqui, entre estes quatro cantos de um ecrã.

Dos que frequentam, ou frequentaram, os meus blogues, apenas duas pessoas me conhecem pessoalmente; existem ainda mais quatro ou cinco, que eu me lembre assim de repente, que eu tenho a certeza de que virei, inevitavelmente, a conhecer, pois há muito que deixaram de ser só palavras para passarem a ter também um nome, um rosto e um contexto que ajudaram a fazer deles mais do que simples esboços na minha vida. Há ainda outros, não muitos, com quem mantenho, de forma mais ou menos esporádica, algum contacto extra blogue, mas sem qualquer intuito, de parte a parte, de ir para além do circunstancial. Por isso, e para a grande maioria, eu vou permanecer o que sou e o que projecto através do que revelo aqui e só aqui. Sem rosto. Nem gordo, nem magro. Nem alto, nem baixo. Nem moreno, nem louro. Nem branco, preto ou vermelho.

Porque acredito, de verdade, que a maioria não precise, nem queira, ver de mim mais do que eu mostro aqui. Para esses, aliás, estou em crer, o meu encanto, a ter algum, está precisamente no que lhes permito imaginar sem nunca lhes contrapor a realidade. E lembrei-me agora do que me escreveu um dos meus mais novos amigos – um dos poucos que não tem alter ego na blogosfera, nem precisa - um dia destes:

“Gosto da maneira que você escreve, há certa sensualidade entre as palavras que me seduzem. Isso me deixa curioso, fico a pensar: “É intencional ou natural? Como ele consegue?”. Por favor, não responda, não gosto de estraga-prazeres.”

Fiz-lhe a vontade e não respondi. Até mesmo porque não saberia o que lhe responder. Do mesmo modo que não fui tratar de saber quem me enviou a missiva. Ainda não.

11 comentários:

João Roque disse...

Amigo Oz
focas um assunto interessantìssimo, e que de uma certa forma já falei. não há muito tempo, no meu blog: a descoberta progressiva, como se fosse um "puzzle" da pessoa que está por de trás deum nome; é curioso que nunca fiz, a priori, qualquer idealização física das pessoas com quem contacto aqui na blogosfera; e é sempre uma surpresa "ver" no real essa pessoa; ùltimamente tenho conhecido um certo número de pessoas e a minha curiosidade é apenas confirmar, se ao vivo, essa pessoa é como mostra ser aqui, no que diz nos textos ou nos comentários; e como tenho um lado psicológico muito apurado, quase sempre as pessoas corresponderam por assim dizer inteiramente ao que delas pensava; o aspecto físico passa-me totalmente ao lado...
Abraço.
A propósito espero corraborar a excelente "imagem" que tenho de ti no próximo dia 19, ok?

Unknown disse...

Os meus blogs são frequentados quer por amigos de longa data - e que portanto já me conhecem bastante bem - e por ilustres desconhecidos que ou são igualmente blogers (gosto muito da palavra) ou simples curiosos. Destes que não conheço a priori - ou que só conheço pelos seus próprios espaços na blogosfera - já conheci provavelmente uma mão cheia e devo confessar que foi uma mão cheia de boas surpresas.
Tal como o pinguim diz - e muito bem a meu ver - a parte física passa-me quase completamente ao lado enquanto que a parte intelectual não vai cair muito longe da ideia que já tinha.
Mas cada caso é um caso e há blogers que apesar de apreciar os seus espaços não me vejo a conhecê-los, talvez porque parte do interesse dos seus espaços resida também no anonimato, mas nunca se sabe.
Se te sentes bem ao usar a máscara do Oz, acho que fazes muito bem em mantê-la. Afinal os blogs devem-nos servir a nós e não nós a eles :)

Abraço ;)

ps-desculpa o comentário confuso, deve ser por causa da insónia... se não for pelo menos é uma boa desculpa lol

Goiano disse...

Deixa qeu eu respondo;
"VOCÊ É NATURALMENTE SEXY... NÃO CONSEQUE EVITAR... UM MACHO ALFA!"

seja bem vindo de volta

Socrates daSilva disse...

Muito boa explanação. Entendo muito bem a questão. Embora, creio, por outras razões. Continua a escrever que desses "retratos" não prescindimos.
abraço

Anónimo disse...

Eu acredito que após certo tempo a gente passa a perceber se o "avatar" é sincero em suas palavras. A partir de então é possível construir uma imagem um tanto mais próxima da verdadeira, ainda que incompleta. E ainda que incompleta, não deixa de ser "você". Acontece o mesmo no mundo "físico": o "você no trabalho" é diferente do "você com os amigos" que é diferente do "você consigo mesmo". O importante é botar o diabo pra correr, hehehe...

Beijo! E feliz bloganiversário!

Will disse...

Xiiii pessoal: olhem que eu já conheci o Oz pessoalmente... não sabem o que perdem: é giro todos os dias e tem uma pila de meio metro, LOLOLOLOL

(brincadeirinha)

Latinha disse...

E sobre avatares e "realidade", tem uma coisa que eu acredito muito e que Clarice Lispector registrou perfeitamente:

"Suponho que me entender não seja uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca."
(Clarice Lispector)

;-) Abração!!!

Râzi disse...

Fala, meu Padeiro Alfa!!

Hauahauuahauhauahuahauhauahau!

Haja feromônio pra atravessar todo um oceano!!! Menino, que poder! Que luxúria! Que tesão lusitano!

Hauahauahauahuahauahauahuah!

Ah, meu lindo, vc sabe que se não fosse sua... covardia??... o número de conhecidos pessoalmente não seria de dois, mas de quatro... mas eu te perdoo...¬¬
(Hauahuhauhauh! Adoro lembrar isso!!)

Sabe, realmente vc é um tipão, mesmo não fazendo em nada o meu! Eu imagino o estrago que vc não faz nesses corações adolescentes (porque apesar de terem mais idade, ainda estão na adolescência gay!!) de pessoinha que te vêem por essa CAM, que mais poderia ser chamado de o Portal do Oráculo de Apollo de Lisboa! Hauahauuahauah!

Beijão, meu fofo! vc sabe que sou seu fã de carteirinha carimbada!
:D

Tarco Rosa disse...

Oz, digo que acho o assunto interessantíssimo. Acho que, inclusive, é um dos motivos mais fecundos da arte. Na literatura, quantas obras já não foram escritas explorando o tema? A mais recente que li foi "Sem Nome", do teu conterrâneo Helder Macedo. Obrigado pela visita ao meu blog e novos posts às segundas. Um abraço.

papagueno disse...

Meu amigo, eu que vivo com dois pseudónimos blogosféricos, às vezes baralho-me mas ambos fazem parte de mim. Quer se queira ou não fazemos sempre uma imagem mental da pessoa por trás da escrita. Devo dizer que das pessoas que já conheci o real não fica muito longe do imaginado.
Um abraço.

No Limite do Oceano disse...

Passei por acaso pelo teu blog e sabes que achei curioso o teu texto, não apenas por focares a questão de quem está por detrás de quem lê os teus textos, mas se te deres ao trabalho saberás sempre o que é realmente importante num comentário e nem sempre as mais belas palavras surgem num e quando surgem é porque é alguém que te conhece minimamente. Sei que há pessoas que vão até ao limite do meu oceano e nunca deixam nada lá escrito e acredita que há pessoas especiais. Um retrato-robô serial uma forma de dar forma às palavras :- )

*Hugs n' smiles*
Carlos