3.4.08

A profecia

Alusão à cena bíblica em que Jacob luta com o Anjo, tema também de uma obra de José Régio que vale a pena conhecer.


Calling all angels
I need you near to the ground
I miss you dearly
Can you hear me on your cloud?
All of my life
I've been waiting for someone to love
All of my life
I've been waiting for something to love

(Calling All Angels, Lenny Kravitz)


Volto zonzo de mais uma viagem, com a sensação de estar esvaziado por dentro. Talvez a culpa não seja de quem me acompanha. Mea culpa, por não ter ao meu lado quem eu quero e preciso nas horas em que as camas de hotel se tornam demasiado pesadas. Ao regressar a casa, atiro-me ao que resta dos chocolates da Páscoa e no DVD coloco directo a série completa de Angels in America ― pergunto-me como foi possível ter passado todo este tempo ao lado de uma obra-prima como esta! Ainda para mais realizada por um dos meus realizadores de eleição, o Mike Nichols (de filmes como Closer, que adoro também!), e com actuações fabulosas de consagrados como Al Pacino e Merly Streep e revelações como Jeffrey Wright e Mary-Louise Parker.

Na sequência em simultâneo em que Louis abandona cobardemente o seu namorado, Prior, às portas da morte no hospital e em que um muito torturado Joe revela finalmente à mulher, Harper, que é homossexual, fico por uns segundos no limiar.

Recomponho-me.

Que bela escolha, estão a pensar alguns de vocês por esta altura, para alguém que estava na mó de baixo… Pois é, acontece que eu nunca tive medo de densidade emocional nem de bons argumentos, o que me assusta mesmo são as histórias de que deserto a meio porque deixo de querer saber como acabam, os orgasmos frouxos, os beijos que não me fazem perder a vigília e as pessoas que supostamente se apaixonam por mim não por aquilo que eu sou e lhes tenho para dar mas por aquilo que elas queriam que eu fosse no seu mundinho perfeito do faz-de-conta.

Porra, crucifiquem-me em praça pública, amarrem-me na lanterna dos inaptos para amar, por não querer ― ainda, não sei se um dia ― a casa, as cuecas misturadas no varal, o almoço de domingo, o amor sereno ou a mão dada no supermercado…

Eu quero e preciso é de perder o chão, do nó na barriga, da vertigem, do orgasmo que me faz quase perder os sentidos, do beijo que me deixa com vontade de mais e da inquietação de querer virar a próxima página para descobrir o que vem depois. Não me façam ultimatos. Obriguem-me antes a sair do pedestal e tornem-me vulnerável. E eu juro que vou. Nem que seja para ficar na cama ao lado a velar pelo teu sono.

11 comentários:

Goiano disse...

cof cof cof
eu sei como ma cama pode ser grande e pesada
mas velar o sono pode ser algo perfeito
ainda mais qdo a pessoa se entrega para isso
bjos

João Roque disse...

Ou trocado em miúdos por um velho provérbio português: "tempo ao tempo e palha às vacas...".
Os passos de cada um são apenas comandados pelo binómio coração/cabeça...
Abraço.

Unknown disse...

As viagens por vezes têm esse dom, de nos permitir pensar. E uma cama solitária raramente é boa companhia, mas como para quase tudo é preciso querer partilhá-la, há que estar pronto para tal.

Quanto ao "não querer (...) a casa, as cuecas misturadas no varal, o almoço de domingo, o amor sereno ou a mão dada no supermercado… Eu quero e preciso é de perder o chão, do nó na barriga, da vertigem, do orgasmo que me faz quase perder os sentidos, do beijo (...)", porque não ter tudo ao mesmo tempo? Essa é a minha meta. Utópico? Talvez, mas é o que quero.

Por fim, invés de estares à espera de ser arrebatado no topo da tua torre de marfim porque não descer dela e dar algumas hipoteses de o efectivamente seres?

Abraço ;)

ps-desculpa o testamento, mas gostei do post e deu-me para isso.
pps-vê lá se agora não és tu que me crucificas pelo que aqui escrevi :P

Latinha disse...

Faço minha as palavras do teu último parágrafo... quero ver novamente minhas tão bem elaboradas teorias cairem por terra.

Desconcertou-me o comentário do Mikael... queria eu saber descer da minha torre de marfim!!! ;-)

Abração!!!

papagueno disse...

Dispenso as cuecas misturadas no varal mas não há nada mais belo e romântico que velar o sono de quem se ama.
Um abraço.

Râzi disse...

Meninoooo! Como estamos atentos para comentar! Que rapidez!!

Ai, meu padeiro do amor, eu estou adorando acompanhar tudo isso! Mesmo!!

Sabe, está arrancando suspiros do meu peito!

Ai, como eu torço, apesar dos pesares e apesar das distância!!

Adoro-os!

:D

Beijão!

Anónimo disse...

Estou com o Mikael em cada ponto e vírgula! Tudo ao mesmo tempo agora + can't you come out to play in your empty garden, Johnny? À luta! :-)

(mas que camas de hotel pesam, realmente pesam... não agüento mais que 1 semana).

Beijo!

Anónimo disse...

Falo desse amor no ultimo post.
Beijos

André Mans disse...

angels in america é arrebatador mesmo

No Limite do Oceano disse...

Falas de anjos...penso que todos nós já via pelo menos um mas o problema é quando perdemos o rasto...

*Hugs n' smiles*
Carlos

Anónimo disse...

http://br.youtube.com/watch?v=hCD5GpmFHUg