1.5.08

Apaguem as luzes, por favor, que me dói a cabeça...

Image by Oz


I hope all my days
Will be lit by your face
I hope all the years
Will hold tight our promises

I don't wanna be old and sleep alone
An empty house is not a home
I don't wanna be old and feel afraid

And if I need anything at all

I need a place
That's hidden in the deep
Where lonely angels sing you to your sleep
Though all the world is broken

I need a place
Where I can make my bed
A lover's lap where I can lay my head
Cos’ now the room is spinning
The day's beginning

(Atlantic, Keane)


Dois homens away from home. O dia vai longo - entre aviões, comboios, táxis, malas abertas. Uma nova geografia com sotaques arrevesados pelo meio. O reencontro pede uma cerveja no bar-da-esquina-onde-todos-vão. Bebemos a primeira, mas, já que estamos ali, e o final de tarde até está agradável, pedimos outra… A conversa engata. E está tão boa que, apesar do câmbio desfavorável, pedimos a terceira para a saída. O crepúsculo tarda, mas o relógio diz-nos ser hora de jantar. Mudamos de poiso. A falta de inspiração para procurar mais adiante dita um restaurante italiano de ocasião, do qual não vou nem recordar o nome mais tarde. Bebemos mais duas para o caminho. Chegados ao hotel, o alpendre do meu quarto, virado para o lago adormecido, exige, apesar da brisa fresca dessa noite, um brinde com vinho. Vazamos a primeira garrafa de tinto e não demora muito a ficarmos amigos de infância. Começam as confissões, algumas das quais serão convenientemente esquecidas na manhã seguinte. Noto que ele se controla, a muito custo, para não tropeçar na língua. Já eu estou mais preocupado em não tropeçar nos pés quando me levanto para ir mijar. Na volta, trago mais uma garrafa.

Terminamos na cama. Cada um na sua e com a respectiva ressaca por companhia. Em momento algum, mesmo quando a conversa resvalou para zonas de perigo, achei que o desfecho pudesse ser outro. Tanto para mim – tenho mais ou menos claro que não me quero envolver com colegas de trabalho -, como para ele – casado, e bem casado até onde sei ou me interessou saber -, o estímulo esteve sempre, e só, em deixar as coisas avançarem até aquele ponto crítico em que a corda fica esticada no limite da tensão. É um desafio. Um jogo em que muitos homens se exercitam sem nunca saírem da sua esfera de conforto ou sem terem de pôr em causa seja o que for. Pouco para uns. Para outros é o suficiente. No meu caso, tem sido, na maior parte das vezes, o bastante. Resta a quem o faz ter a inteligência, e a humildade, de ter sempre bem presente uma lei elementar da vida: o vazio prevalece sobre tudo aquilo que é fugaz.

12 comentários:

João Roque disse...

Como é atractivo esse "jogo" de ir até à beira do precipício, esticar a corda até ao limite, como bem dizes; e continuar a "jogar" agora na mente, a outra face do jogo: e se...Sedutor e excitante exercício de auto controlo, com ou sem a ajuda do álcool.
Bom feriado.
abraço.

Latinha disse...

Eu sempre tive para mim que "onde se ganha o pão, não se come a carne", ninguém nunca me falou que tal regra existisse de fato... mas ela sempre esteve lá para mim...

E me parece que está aberta a temporada de "jogos"... eehhee E andar no "fio da navalha" é sempre algo muito charmoso e excitante.

Grande abraço!!!

Luís Galego disse...

o vazio prevalece sobre tudo aquilo que é fugaz…


e a sensação de vazio é tremenda. E como se faz para transformar esse vazio, como encontrar essa chama sem névoa? O homem busca o equilíbrio entre aquilo que é o seu ideal de relacionamento e aquilo que é possível alcançar. O problema é que temos como referência sempre o nosso ideal e acabamo-nos lamentando, nos magoando diante daquilo que conseguimos. Assim, as nossas acções transportam-nos para um certo auto-isolamento que cria uma sensação de vazio, um sentimento frustrante. Vazios, procuramo-nos preencher com Internet, com leitura, com aquisição de conhecimento, com respeitabilidade, com dinheiro, com posição social e por aí afora. Mas tudo isso é parte do processo de isolamento e, portanto, o reforça. Vivemos a bisar frases e pensamentos mas somos apenas fitas gravadas que repetem e repetem. Aprendemos e repetimos, mas a nossa vida continua superficial e vazia. Corremos atrás de amores descartáveis e acabamos escolhendo qualquer relação, especialmente a que trouxer prazer imediato. Assim, a vida é um processo de isolamento, de resistência, de ajustamento a um padrão; e, naturalmente, nesse processo não há vida, existe só a sensação de vazio, de frustração. Mas pelos vistos a vida também tem que ser assim, um momento, um instante, uma noite perdida, como alguém cantou.

Este texto particularmente bem escrito, aliás como é frequente neste espaço, roça por todos os cantos de muitas realidades, menos pela vulgaridade, porque é respirado e sentido. Parabéns!!!

Socrates daSilva disse...

Saudo o regresso. Como sempre vale a pena a espera. Estes jogos...
Abraço

Paulo Mamedes disse...

Esse jogo de heteros é moda entre os adolescentes norte-americanos... haihaiiahaiha
Só que eles chamam de gay o que NÃO aguenta e NÂO beija... hiahiahiah esses americanos...

Bem quanto ao frio... aki tá 16º, hehehehhe
to com uma camiseta de manga longa e uma malha de lã por cima... em um ambiente fechado...kkkkk

Anónimo disse...

Rapaz, que saudade docê! E pelo jeito, e apesar da canseira que sempre tem numa viagem, você aproveitou o "suficiente", hehehe...

Tenho que verificar meu google reader... ele não me trouxe os outros dois posts abaixo, creio...

E obrigado pelos votos - tudo vai dar certo e você ainda virá nos visitar em casa. Tem quarto procê dormir! :-)

Beijo!

Râzi disse...

Meu lindo, então estavas a testar os limites alheios, hein!!!

ahauahuahauahauahuahauaau!

Quero ver o dia que ficares nessa brincadeira de pica mole e se deparar com um pouco mais de coragem do outro lado da corda! Ahauahuahauahauahu!

Essa conversa ainda vai render entre a gente! Me aguarde!

Beijão!

E muuuuitas saudades suas!!
;D

Will disse...

O vazio prevalece sobre tudo aquilo que é fugaz.

Mas há sempre, num último instante, a possibilidade de renunciar a esse vazio, recusando o fugaz para abraçar o pleno.

Kokas disse...

É isso que me faz tremer: que o vazio prevaleça. Dizia-me um dia, numa entrevista a Odete Santos: "O único medo que tenho é do vazio. Sabe, o nada assusta-me... é a única coisa que me assusta".

Olhei para ela e fiquei gelado. Contrariando as regras, soltei um sorriso e disparei: "A mim tb"

Aquele abraço!

paulo disse...

Ando há dias para registar aqui um comentário. Por falta de inspiração ou das palavras certas para o fazer, as que ainda não tenho no momento, mas que não posso adiar mais.
Num registo brilhante, sinto que domina aqui a solidão, a solidão do efémero e do aquém, mas também da expectativa e da excitação: "o vazio prevalece sobre tudo aquilo que é fugaz". Também não sei se é um jogo ou um exercício de sobrevivência, o desejo forte de querer afecto. A troca de experiências, de infâncias e copos é excelente para ir mais além, ou não. Nem sempre dá para viajar muito, pois trabalho é trabalho e conhaque é conhaque! Há que manter as fronteiras bem delineadas para não haver confusões! Afinal, a saudade do que poderia ter Um abraço

MrTBear disse...

Não, o vazio não vence!!!!
Tivesse eu tantas certezas como esta!!!!

Anónimo disse...

Há aquela teoria que nós nos conhecemos uns aos outros. Eu no jogo dos olhares sou em regra cobarde, desvio sempre o olhar. Mas há sempre aquela excepção que confirma a regra, ainda bem...