12.5.08

A imagem

Fotografia de Zsolt Szigetvàry, Hungria

Ontem, domingo, aproveitei a tarde para cumprir um ritual que, na medida do possível, tento preservar ano após ano: fui ver a exposição da World Press, que distingue as fotografias mais marcantes, a nível mundial, em diversas categorias. Poderia falar de muitas delas, mas esta aqui marcou-me por razões que, acho, dispensam maiores explicações da minha parte; acrescento apenas um breve enquadramento para quem ainda não viu e/ou não terá oportunidade de o fazer: estes dois homens estão à espera de ser socorridos. Um deles foi atingido na cabeça por uma pedrada. O agressor, provavelmente um manifestante neonazi, fê-lo porque estes dois mesmos homens participavam na Parada de Orgulho Gay em Budapeste, que teve lugar em Julho de 2007. E eu que, ainda há um ano, me arrepiava com a ideia de tais desfiles de duvidoso gosto e não conseguia enxergar para lá das plumas e das figuras tristes, hoje olho para alguns destes homens e mulheres - sobretudo os que não perdem a dignidade nem debaixo de pedrada - e compreendo-os muito melhor.

Em rodapé desta vez, uma velha música dos Portishead, Roads, que, volta e meia, reaparece para me assombrar. Porque Ohh, can't anybody see / We've got a war to fight / Never found our way / Regardless of what they say.

17 comentários:

Latinha disse...

E olha que muitas são as pedras... pedras a serem carregadas, a serem levadas, a serem ouvidas.

Além de bela, é sem dúvida alguma é uma imagem que perturba. "Quem tiver olhos de ver, que veja!".

Grande semana! Abração! ;-)

João Roque disse...

Há sempre duas formas de ver um mesmo facto, neste caso as ditas manifestações, em que por um lado abunda um folclore que considero ridiculo e traz, a meu ver, uma imagem distorcida e redutora do que é ser gay; e, por outro, a legitima presença de toda uma multiplicidade de cidadãos que consideram ser uma ocasião única para mostrar à sociedade que nós existimos e somos cidadãos como eles, com os mesmos deveres e direitos.
É triste, que uma homofobia sempre activa, não veja outro método de se fazer notar, e use apenas a intimidação física e a agressão mesmo, para se exprimir; é por isso, que não podemos calar-nos e têm toda a justificação as marchas gay, que nalgumas cidades são autênticas demonstrações de uma mobilização tremenda.
A foto diz tudo, pois se não se soubesse a origem da agressão, não se adivinhava que os dois homens fossem sequer gays...
Abraço.

Luís Galego disse...

O recente inquérito do Instituto de Ciências Sociais sobre sexualidade revela que 70 por cento dos portugueses considera “erradas” as relações homossexuais. Aliás, a maioria terá inclusive escolhido a opção (algo bizarra) mais categórica. São relações “totalmente erradas”. E mesmo entre os mais jovens esta percentagem não desce abaixo de 53 por cento. As práticas e as identidades sexuais na homossexualidade e bissexualidade foram também objecto deste inquérito, que demonstrou que os portugueses têm dificuldade em aceitar diferentes orientações sexuais. 58, 8% dos inquiridos considera que uma relação sexual entre dois homens é algo totalmente errado e 53,8% considera o mesmo no caso de se tratar de duas mulheres. No universo feminino, não há grandes diferenças a assinalar: para 39,2% das participantes neste estudo uma relação sexual entre homens é algo errado, sendo que a percentagem eleva-se para 40% quando se trata de julgar o relacionamento sexual entre mulheres. Hoje, mesmo com tanta informação, ainda não é fácil para muitas pessoas entender o que é ser gay, identificar e aceitar esta outra forma de desenvolver a sexualidade, ou personalidade. O preconceito ainda é a maior barreira. Para acabar com todo esta pressão psicológica, talvez só haja um caminho: o do respeito. Homossexualidade não é crime, não é doença e não é contagiosa. O preconceito sim, é contagioso e destrói. Antes de ser homo ou lésbica, a pessoa é mãe, pai, tio, amigo, advogado, comerciante, namorada, estudante… Assim, não é de admirar que muitos dos que ainda há pouco tempo se arrepiavam com a ideia de tais desfiles de dúbio gosto e não conseguiam vislumbrar para lá das “plumas e das figuras tristes”, hoje olhem para alguns destes homens e mulheres – “sobretudo os que não perdem a dignidade nem debaixo de pedrada” - e compreendam-nos muito melhor.

Um abraço

Anónimo disse...

Ia até fazer uma brincadeira do tipo 'uau, que gatos!' mas por ser um motivo sério, vi depois, fica aqui a minha simpatia pela força desse povo. Ainda me falta muito feijão pra ser corajoso assim!

Beijo!

Paulo Mamedes disse...

É engraçado como as pessoas se incomodam com a vida dos outros, querem julgar a todo momento, acho que tentam disfarçar ou mudar o foco de seus próprios defeitos, tentando desvalorizar as outras pessoas.

Pessoas que se incomodam DEMAIS com alguns comportamentos, devia antes de condenar quem o faz... se perguntar o porquê disso... acho que seria mais inteligente e menos animalesco!

Maurice disse...

Caro Oz,

Ainda ontem tinha estado a olhar para esta fotografia, no sítio World Press Photo, tentado a fazer um post sobre ela. Acabei por decidir outra coisa, por razões que não vêm ao caso. Mas achei curiosa a coincidência.
A foto é muito boa. E estou de acordo contigo: com o tempo, também eu tenho vindo a mudar a minha opinião sobre esse tipo de marchas. E a admirar cada vez mais a coragem daqueles que insistem em manter a dignidade, mesmo debaixo de pedrada.

Abraço

Râzi disse...

Oz

Eu vi essa foto... e ela também me emocionou...

Eu tinha uma idéia desse tipo sobre as paradas... mas podemos culpar essas pessoas por tentarem aproveitar um pouco de Sol???

Digo... vivemos escondidos, praticamente nos arrastando embaixo das pedras... quantas eu quantas vezes eu quis andar de mãos dadas com o Lê? Quantas e quantas vezes eu não quis abraçá-lo sem que tivessemos que fingir apenas amizade?

Eu não posso culpá-los, se dentro de mim existe o desejo, mas não a coragem...

Beijão!

SP disse...

Não sei se alguma vez te disse, mas digo agora:
gosto do teu sítio!
Um abraço...

André Mans disse...

eu tb curto coisas assim
a vida tem q ser crua, forte e intensa, sem medo, sem redeas, com amargura...

MrTBear disse...

A fotografia está excelente. Dá uma imagem de força, temperada com uma ternura que parece estranha vinda de dois homens...

Special K disse...

A imagem é bastante forte e diz muito.
Quanto às marchas, fui à do ano passado por curiosidade e apesar do floclore, até que foi engraçado. Este ano pelo menos vou estar no Arraial para dar um pézinho de dança. Feliz será o dia em que as marchas e os "gay pride" não serão mais necessários.
Um abraço.

FOXX disse...

ou seja, vc mudou!
que bom não é?

x_bear disse...

amigo...eu por acaso já tinha feito destaque a esta fota à uns tempos atras no meu blog....e tb expressei a minha raiva , indignaçao e impotencia perante tal acto de cueldade e estupidez, porque razão as pessoas não podem ser diferentes???temos todos que gostar do mesmo???Mundo cruel este...fiquei contente por alguem gostar dessa foto, não pela imagem triste mas porque retrata uma forte personalidade dos indivíduos nela presente...
Um abraço*

Voyager disse...

A imagem é fortíssima...

Tarco Rosa disse...

Achei linda a imagem. Forte e ao mesmo tempo terna.
um grande abraço

Tongzhi disse...

Também já conhecia a foto mas, confesso, não me tinha debruçado sobre a sua história.
Partilho com a ideia da maioria dos comentários quanto às marchas. Infelizmente, quanto a mim, a ideia que fica é das plumas e outros exageros.

Anónimo disse...

Obrigada pelo teu post.
Comoveste-me com poucas palavras.

E parabéns por teres mudado de ideias. :)