11.3.08

Telegrama

Avenida Afonso Pena, Beagá, Minas Gerais


Por isso hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria...

(
Telegrama, Zeca Baleiro)


Troco as voltas ao relógio e aterro directo no boteco da esquina. Beagá mata a sede, lava a alma e afina a mira no Maria de Lourdes. Duas garotas sentam-se à minha mesa. Uma delas, cruza o tchê gaúcho com o uai mineiro, matiz de escocês com chinesa. Linda de morrer (vontade de levar para casa). Saio arrastado para um qualquer forró da Zona Sul, onde me encharco numa bebida açucarada de má memória, mas é no MP5, para os lados do Raja, que me acabo a dançar, movido a vodka e energético. Ele, ligeiramente mais alto do que eu, de bermudas e camisa amarrada na cintura, é o dono da pista (vontade de pegar ali mesmo). O financier, bolinho de amêndoa, do Graciliano derrete-se na boca, misturado com o café forte e ardido. O pastel de banana na Marília de Dirceu, com os seus ares de Jardins paulistanos, polvilha-me o céu da boca. Árvores, muitas árvores no asfalto que abre frestas como uma erva daninha. No Favorita, entre azulejos hidráulicos e filete de raia no ponto, ele, o chef de olhos azuis e cabelo revolto, lança o isco mas eu deixo o anzol meio solto (um dia, quem sabe). Na outra esquina, no Dádiva, vazo quase uma garrafa de vinho sozinho apesar de estar acompanhado (mas não por quem eu gostaria). O encontro de diferentes estilos e linguagens na Praça da Liberdade. O trânsito que avança aos solavancos. Os arranha-céus da Afonso Pena ao cair da noite. As casas dos ricos encurralados de Mangabeiras. O garoto deliciosamente imberbe que me guia pelos corredores do Palácio das Artes (vontade de levar para casa). Descobrir Gringo Cardia, o homem dos sete ofícios que colocou Mariza Orth em pêlo a cavalo num ensaio da Playboy. O tipo da Ellus que só me falta dar o número de telefone. A garota da Blue Man que me dá o telefone sem eu lhe pedir. O taxista que me previne “se não come, é viado”. A vertigem das cores e dos cheiros no Mercado Central. O doce de leite de Viçosa que adio para mais tarde. A Savassi, onde há sobremesas de Portugal e livrarias, como a da Travessa, onde não apetece ter pressa, e a rua Fernandes Tourinho, onde abraço Ronaldo Fraga e me lambuzo com um menu natureba no Mandala. Teimar em ir ao Graças a Deus quando deveria antes ir ao Josefine Club. As cervejas esvaziadas em Santa Tereza e na Serra. A ressaca de uma noite mal dormida. O almoço farto de sábado no Xapuri, depois de visitar o cachorro que Portinari pintou na igreja que Niemeyer criou na Pampulha como ensaio para Brasília.
As esquinas de Beagá, verdadeiros triângulos onde só se perde quem quer. Ou quem tem coragem.

15 comentários:

Anónimo disse...

Mas tu deve estar todo prosa, com esse povo se jogando em cima, hein?? :-) Merece, merece... :-)

Bom que voltou, tava com saudade! Casar é a história de comprar terreno e construir, uai... Só tenho 16 anos pra me livrar do financiamento (antes de aposentar e o salário ir láááá pra baixo). Tenho que correr. Beijo! :-)

Latinha disse...

Welcome back meu amigo! Fez falta!

Perder e se encontrar é tudo uma questão de "disposição", mas até que o jogoo de "morde e assopra" é muito bom!

Ao ler teu post me veio a mente uma questão... seria eu um Latinha "perdido" devido aos inúmeros triângulos [alguns de bermudas, eheh] de nosso boa e velha "Beozonti"?

Abração!

Paulo Mamedes disse...

Beagá é bomdimais!

Râzi disse...

Ai, ai... esse seu relato de BH me faz sentir várias coisas... saudades,primeiramente, porque foi minha cidade por cinco anos... raiva, depois, porque me lembra que certo canalhe esteve em meu quintal e nem me avisou... e alegria, porque vais comer um doce de leito de lamber os beiços!!!

Meu lindo, espero que tenha gostado, e fica fácil ver que gostou!

Bom, quando puder voltar, dê sonífero ao amigo e venha nos ver!

Hauahauahauahauah!

Beijão!

Anónimo disse...

delícia de viagem.

Goiano disse...

que isso menino!
no brazil e nao veio me ver?
safado!

na sexta eu esta viajando (se soubesse tinha ido p onde vc estava) e fui a um restaurante bacanudo e qdo cheguei tinha um homem lindoooo , mas pense q era lindo!!! ai sentei na mesa do lado (pq nao tenho nivel) e dei um jeito de puxar assunto ... qdo ouvi o sotaque kkkkk as pernas bambearam ... ele era portugues! eu so pensei em te contar ...
bjos to com sauddade

Anónimo disse...

Saudade!

Adoro o "Telegrama" do Zeca Balero e ouvia muito quando mudei para São Paulo. Não conheço BH, mas lendo seu texto deu uma vontade louca de ir para lá e vazar a garrafa de vinho também!

Beiju!

Anónimo disse...

Que pena, conheço os mineiros mais ainda não conheço BH.

O seu tour pelo Brasil se limita a BH?

Beijos!

Will disse...

Ai... este blog está a ficar "muy caliente" caro Oz ;)

Dione Walker disse...

ahhh eu não gosto de ficar enrolando não rsrsrs, geralmente eu escrevo com mais calma, mas os ultimos dias foram corridos como o post, mas tudo bem :P
Pra que enfeitar se a gente pode simplificar as coisas :)
Se um dia for visitar curitiba avise, acho que vc tbm vai se encantar tanto quanto ^^

:*

Marco disse...

Vejo que foi muito bem guiado aqui em terras mineiras. Sinto-se privilegiado por ler suas linhas e reconhecer cada pedaço deste chão. Com orgulho percebo que a cidade te deixou boas impressões. Pena que acabamos não nos encontramos. Mas BH espera seu retorno, de braços abertos, para um bom café e altos papos bem regados. Grande abraço!

Goiano disse...

passei por aqui p falar boa noite
e só
pq nem vou dar em cima de vc no blog e nem ficar flando coisas picantes
nunca mais menciono chicotes+cueca+sexo na mesma frase com vc
vc me deixa com ideias
bjos

André Mans disse...

toda cidade tem sua avenidade afonso pena e eu canto telegrama tb

acho que tem em mp3 pra baixar
www.buscamp3.com.br/somglass

Socrates daSilva disse...

sons, sabores e paisagens fantasticas.
abraço

Tarco Rosa disse...

Olá, Oz, acesso pela primeira vez teu blog... Digo-te que nos triãngulos virtuais, é bom ler algo tão pessoal e, ao mesmo tempo, tão humano.
um abraço