4.6.08

Trintões


You made me smile today
You spoke with many voices
We travelled miles today
Shared expressions voiceless

(Numb, Sia)


Em vésperas de somar mais um aniversário* ― o que é sempre motivo de reflexão, sobretudo desde que entrei na fase “Opá, mais um?! Mas tem MESMO de ser? Estava tão bem assim… não quero brincar mais a isto! ―, tenho constatado nas últimas semanas que a vida moderna, entre outras benesses, abriu novas possibilidades aos trintões como eu. Para começar, hoje é-nos permitido, se assim o entendermos, continuar a fazer aquilo que nos dá na real gana sem medo de estarmos a ser “ridículos” e/ou de sermos taxados com piropos do tipo “lá estão eles a fingir que ainda têm vinte anos”! Não temos de fingir. Não temos sequer de gostar das mesmas coisas que gostávamos aos vinte anos, mas também não temos de nos sentir mal se, por acaso, ainda nos apetece fazer muitas das coisas que fazíamos aos vinte.

Os trinta trazem-nos cabelos brancos e um metabolismo mais lento – a alguns trazem ainda mulher, marido, sogra, filhos, cães, um empréstimo para pagar nos próximos 30 ou 40 anos, um Plano Poupança Reforma e, com alguma sorte ou azar, um ex ou uma ex que nos vão infernizar um bom tempo―, mas estão muito longe de ser o fim da linha em matéria de diversão ― com uma vantagem comparativa nada desprezível se tudo correr pelo melhor: temos mais dinheiro no bolso para estourar nas coisas boas desta vida (e são tantas!).

Confesso que, há uns anos, vi a coisa mal parada quando, de repente, dei por mim rodeado de amigos já casados e a pensar em criancinhas. Mas, curiosamente, se a dada altura senti maior dificuldade em arranjar companhia para sair e beber uns copos, a culpa foi mais minha, que me afastei e me "ausentei" tantas vezes a pretexto do trabalho, do que deles. O certo é que agora, olho à minha volta, e não me faltam amigos que continuam solteiros como eu, que voltaram a ser solteiros ou que ainda não tiveram sequer tempo para deixar de o ser.

E é assim que, aos trinta e poucos, aos trinta e picos, ou aos trinta e muitos, continuamos a fazer jantaradas, a correr vários bares numa só noite, a gastar 60 euros para ir ver a Madonna ou a ponderar a possibilidade de acordar de madrugada nos feriados para aguentarmos a pedalada das sessões do Europa, com Dj’s convidados, entre as 6 e as 10 da matina.

O reverso de ser trintão e de continuar disponível no mercado? Existe, óbvio que existe. Por exemplo, a amizade sincera entre homens e mulheres na casa dos trinta não é uma utopia, mas, admito, presta-se a alguns mal-entendidos. Especialmente quando, como acontece comigo, as cartas não estão todas em cima da mesa. Não nos iludamos: a maioria dos trintões que permanece solteira não faz disso um drama ― e até gosta, já que ir para a cama deixou de ser um problema ―, mas isso não quer de todo dizer que se tenha descartado a meta de encontrar um(a) companheiro(a) estável. As mulheres trintonas, mais do que os homens, pagam uma factura pesada ― sobretudo as que dão ouvido ao tic-tac impiedoso do seu relógio biológico ― pela sua emancipação social e sexual. E ai chegamos ao clássico e muito batido pregão: os homens livres depois dos trinta ou são mulherengos ― logo fogem do compromisso como o diabo foge da cruz ―, ou são gays ― logo se não forem aliados, ao menos que não sejam adversários.

De fora da equação matemática ficam os que, como eu, se encontram no limbo. Tenho uma relação bastante cúmplice com as minhas amigas, pelo que não me importo de fazer as vezes de confidente, mas, por outro lado, nunca permiti que me deixassem de ver como Homem, porque, independente de ser ou não gay, acho muito mais interessante quando existe sempre alguma tensão sexual.

Sei que muitos encaram isto como uma incapacidade minha para me aceitar como realmente sou ou até, em certa medida, como uma demonstração de desonestidade para com os outros e para comigo. Não é, nem nunca foi, essa a intenção. Mas boas intenções não chegam e, assumo, a minha postura dúbia coloca-me, agora mais do que antes, frequentemente naquilo a que os brasileiros chamam de “saia justa”. Neste preciso momento, tenho uma amiga, recém-chegada à casa dos trinta, que está, digamos, numa fase confusa a meu respeito... Olha para mim, vê o homem gentil que lhe abre ou fecha a porta do táxi, o tipo divertido com quem vai para os copos mas com quem também pode conversar sobre praticamente tudo, e pergunta-se: mas se estamos os dois livres e temos uma boa química, por que raio não se chega ele à frente? Ai a dúvida instala-se… E, em caso de dúvida, o que faz uma mulher? Eu arrisco dizer que joga em duas frentes e ora tenta fazer ciúmes para provocar uma reacção, ora parte do princípio – que muitos querem tornar universal ― de que um gay como amigo vale muito mais do que uma amiga. Culpa dos filmes, já se vê, que deram vida a esse monstro do “seria o homem ideal, mas como é gay ficou o meu melhor amigo”.

Nesta lógica distorcida, quem fica em maus lençóis sou eu, está-se mesmo a ver, que agora tão depressa sou picado pela entrada em cena de um “motoqueiro galanteador”, como sou intimado a pronunciar-me sobre as investidas dele e o que poderão querer dizer no manual masculino. E só me apetece responder: não me faças ciúmes, que não vale de todo a pena, mas não te atrevas, por outro lado, a querer fazer de mim o teu Will ou o teu Rupert Everett de trazer por casa, que nem tu és a Grace ou a Madonna tampouco. Sim, estou mais cínico. A boa ou a má notícia é que isto só tende a piorar com a idade.

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*Agradeço muito os parabéns que, entretanto, tenho recebido, mas aproveito para esclarecer que ainda faltam uns dias para o meu aniversário. Apenas antecipei o assunto.

16 comentários:

Goiano disse...

well dear
happy birthday
(nao sei q dia é... mas vc disse que esta perto)

bem falta pouco para me tornar um trintao... e to morrendo de medo na verdade
significa qeu ja é tempo suficiente para se ter algo ... mas o que é esse algo?

nao sei ... se descubrir me conta

qto a amiga... bem eu nao sei o que faria ... mas vc é mais ponderado que eu logo vai achar uma solucao

bjos

FOXX disse...

parabens!


eu tenho uma teoria, incomoda-se?



não me pareceu...

(eu uso as reticencias para pensar sim)

que sua dubiedade fosse por causa de não se aceitar, mas me parece sim que ela tenha relações com a imagem que vc quer passar para os outros. Algo como se vc quisesse ser visto de outro modo... e não da forma q vc realmente é...

não pq vc naum goste de como é, apenas que vc acha mais útil usar a outra imagem...


apenas uma teoria...

Tarco Rosa disse...

Feliz Aniversário! Eu que já passei dos trinta e já cheguei nos quarenta, digo que nada é muito diferente... No meu caso, posso dizer que a idade trouxe mais paz e consciência de que a vida é uma contínua busca...
Um abraço

Kapitão Kaus disse...

Parabéns pelo aniversário!

Quanto à questão de ficares mais cínico com a idade, eu diria que ficas mais maduro e mais experiente e que passas a relativizar também muita coisa. E o importante é que sejas feliz, isso sim!

Abraço:)

Luís Galego disse...

Mas boas intenções não chegam e, assumo, a minha postura dúbia coloca-me, agora mais do que antes, frequentemente naquilo a que os brasileiros chamam de “saia justa”.

Ser ou Não Ser pelos vistos não foi inspiração exclusiva do velho bardo de Stratford-upon-Avon. Muitos dos posts que por aqui passam levantam a questão da ambiguidade. Mas suscitada de modo literariamente/realisticamente interessante, entenda-se.

Como sempre gostei (muito) do que aqui se escreveu e até daquilo que não se escreve mas que se entende (ou julga-se...)

Um abraço

Carla M. disse...

Adorei teu blog.

grata surpresa encontrá-lo.

e sinceramente, como mulher, conheço o avesso da situação. imagine ser levado a pensar desde sempre que as coisas são assim, e do nada, vem alguém inclassificável. dá um nó na cabeça.

mas com o tempo, a tensão sexual adquire cumplicidade, e passa a deixar de ser problema, pra virar vantagem.

acredite, ela vai entender.

ou não... isso é apenas teoria.

San Lee disse...

Como diria Adriana Calcanhoto: "...Trasito entre dois mundos, eu gosto de opostos..."
Evito sumariamente me envolver num tipo de tensão semelhante, apesar da mulherada achar que pego todas na moita.
Simplesmente não passo recibo.
Já tenho "informação" demais com os homens... hehehehehehe

Abraço!

Râzi disse...

Ah, eu quero saber o dia certo!!!

E vc, pegando no meu ´pé, pelo MSN, parecia mais um infante de 15 aninhos! :D

Sabe... eu entreiem crise quando fiz 30... mas passou rapidinho!

Sou muito daquele tipo "ah, não tem jeito? Tá bom!"

Beijão, querido!

MrTBear disse...

Parabéns antecipados então :)))), que quando cá vier a próxima vez, já deves andar nos quarentas :)))).
Cá por estes lado têm-me ensinado que a idade não é um drama. Drama é não saber viver a vida em cada instante e saboreá-la a cada segundo que passa.
Abraços
Bom fim de semana

SP disse...

Então fazemos anos brevemente!!!
Pois... o tempo passa tão rápido.
Um abraço...

Will disse...

Então... vais dizer o dia em que calha o aniversário ou não?

:P

João Roque disse...

Pois olha eu sou a pessoa mais indicada para te dizer que todas as idades são boas se as soubermos viver em proveito próprio...
Trinta anos é uma idade óptima, já se não é "agarotado" e é-se tudo menos velho; não te envio parabéns, apenas desejo que passes um belo dia de aniversário.
Quanto às ambiguidades, penso que elas se vão atenuando com o decorrer dos anos, quer pela postura pessoal, quer pela reação da própria sociedade.
Abraço.

Latinha disse...

Touché... teu post está muito bom, e de certa forma me deixou inquieto por dias (para não dizer que ainda estou, eheheh).

Na qualidade de Trintão... apesar de nunca ter ficado preocupado com a idéia de envelhecer, devo confessar que a sensação de não ter feito "nada" as vezes me assombra.

E quanto as amigas.. ah! as amigas!

Grande abraço! ;-)
Grande semana.

jacques disse...

coincidência. passei o fim de semana a assistir will & grace (estou colecionando os dvds).

feliz parabéns, moço!
beijo grande.
=D

No Limite do Oceano disse...

Curioso esse teu texto e não vou tecer muitas palavras porque ainda não estando lá "década" dos 30 faltando apenas +/- 2 meses entendi o que escreveste...também eu gastei 60 euros para ir ver a Madonna e isso foge um pouco no que gasto o meu euritos mas o que realmente me fez deixar este comentário é a questão de umas pessoas "avançarem" no que é tradicional e outras ficam entaladas. Chegar à casa dos 30 poderá ser umn autêntico bloqueio para mim mas só depois é que poderei dizer, mas decerto que esse dia será especial. Farei por isso :- )

*Hugs n' smiles*
Carlos

Anónimo disse...

Trinta? Faltam oito anos para eu chegar aí. No entanto, eu tenho um certo fascínio pelos caras de trinta... justamente por tudo isso que você disse... você pode continuar fazendo as coisas que fazia aos 20 anos mas com dionheiro e um pouco mais de maturidade... sei lah... e com essa moda de vaidade agora, tem cada trintão!