Like the little school mate in the school yard
We'll play jacks and uno cards
I'll be your best friend and you'll be mine Valentine
Yes you can hold my hand if you want to
'Cause I want to hold yours too
We'll be playmates and lovers and share our secret worlds
But it's time for me to go home
(Big Girls Don’t Cry, Fergie)
A cena repete-se. Uma vez mais. Eu e a televisão. Desta feita, o meu zapping leva-me a aterrar numa dessas tertúlias obscuras do social cor-de-rosa. Discute-se, como se ainda houvesse algo de novo (ou de credível) a acrescentar, o caso de Diana com o playboy Dodi al Fayed. Alguém opina que o pai, o milionário Mohammed al Fayed, só teima na teoria da conspiração para não ser obrigado a enxergar o óbvio: Dodi era gay e ter-se feito acompanhar de uma bela mulher nos seus últimos dias de vida não prova o contrário. Vão mais longe; uma das especialistas na matéria, presente em estúdio e com ar de quem falava em causa própria, arremata: “o que não falta por ai são gays que desfilam para cima e para baixo com mulheres vistosas!”. Tomem e embrulhem.
Esta ladainha, em rigor, já tem barbas. Lembro-me mesmo der ter lido, certa vez, um artigo que se debruçava precisamente sobre elas, as tais mulheres que, num dado momento das suas vidas, preferem a companhia de gays assumidos ou não ― com casos de todos conhecidos como o de Geri Halliwell, a eterna GingerSpice, e George Michael ou ainda de Madonna e Rupert Everett ―, merecendo por isso a designação jocosa de Fag Hags.
Sosseguem… não me vou pôr a filosofar sobre as razões que poderão levar um gay a querer ser visto em público com uma mulher ― já há teorias de sobra e eu, para dizer a verdade, nem estou interessado na maioria delas! Mas a estória fez-me recordar um episódio vivido durante uma das minhas viagens de trabalho. Ia acompanhado por um colega mais novo, todo metido a garanhão, que me apresentou uma amiga de longa data que ali se encontrava radicada há vários anos. Ela, a amiga, uma mulher interessante, bem disposta, bem relacionada e solteira, disponibilizou-se para fazer de nossa cicerone algumas vezes. Numa dessas noites, a do seu 36º aniversário, convidou-nos inclusive para o seu jantar de comemoração. Na hora de nos sentarmos à mesa, feitas as apresentações, estranhei o facto de, tirando ela, sermos todos homens, mas não dei muita importância ao assunto. É claro que a dada altura, já depois de bem comidos e bebidos, até eu, que nasci com o “gaydar” avariado, não pude deixar de reparar que o grosso dos homens ali presentes era gay… gritantemente gay! Devo dizer que, dadas as circunstâncias, o meu colega, ponto seu, se portou à altura e não teve um daqueles chiliques clássicos que costuma acometer os heteros sempre que se vêem rodeados de gays por todos os flancos. Foi simpático e sociável durante todo o jantar.
Mas o pior estava para vir. Dali seguimos para uma festa que decorria, supostamente, no loft de um artista plástico. Mais uma vez, eu, sempre a leste do paraíso, achei tudo óptimo à entrada: pessoas de várias nacionalidades, música, bastante espaço e todos a servirem-se de bebidas na cozinha, o que me fez recordar as minhas wild parties quando estudava em França… Estava eu imbuído dessa nostalgia estudantil, quando o meu colega me chamou à parte e me pediu para olhar bem à volta… Admito que levei um susto! As poucas mulheres que se encontravam na nossa chegada tinham-se evaporado e o que havia com fartura era marmanjos, por todo o lado, e alguns deles já em fase avançada do amasso. Ele quis ir-se embora imediatamente e eu nem ripostei, pois, acordado para o propósito da festa, senti-me também deslocado. Procurámos a amiga dele, despedimo-nos e zarpámos. Ela ficou, como se nada fosse, rodeada dos seus amigos gays. Foi então, já no táxi, que ele proferiu uma frase que guardei:
- “Ela só vive rodeada de panascas para não ter de encarar que tem trinta e tal anos e está sozinha!”.
A tirada machista, mas que tem, quer se goste ou não, algum fundo de verdade, fez-me rir em silêncio. Não disse, mas pensei:
- “O problema maior dela, porventura, não é ter 30 e tal anos e viver rodeada de panascas! É, talvez, encontrar apenas tipos disponíveis como tu que, tirando a queca - transa - da praxe, não se mostram suficientemente interessantes para ela preferir a vossa companhia à dos ditos panascas!”.
Mas resolvi que ele já tinha tomado a sua dose por essa noite.