21.7.08

I'll show you mine if you show me yours


Are you ready to play the game
Ready to lose it all

Sure you want to play

This Tainted love?

(
Tainted love, Kwan)


Tenho uma amiga que não suporta O Sexo e a Cidade. E, no entanto, não me surpreenderia nada se viesse a descobrir que muitas daquelas gagues deliciosas foram inspiradas na sua desvairada vida amorosa. Sim, essa minha amiga tem aquilo que podemos chamar de "queda" para o desastre. Chegada à encruzilhada dos trinta, ela é a encarnação perfeita da mulher moderna, independente e bem resolvida sexualmente que, sem perder a graça, mas já meio cismada quanto às suas opções de vida, se começa a interrogar: "será que tenho apostado nos cavalos errados?"

Parece que não está nada fácil às mulheres arranjarem um homem decente nos dias que correm. Não querendo ser cínico, eu diria que, no caso dela, não ajuda muito o seu humor afiado como uma navalha - aliás, arriscar-me-ia a acrescentar que só há uma coisa que deixa os machos de plantão mais vulneráveis do que se sentirem presas de uma mulher sexualmente activa; que é o de se sentirem alvo da chacota de uma mulher inteligente. É que esta minha amiga têm o péssimo hábito - mas que nos poupa a nós, os amigos, a tarefa ingrata de troçar dos seus namorados às escondidas - de ser a primeira a fazer piadas de um namorado que se revele mais desajeitado, não hesitando mesmo em dar-lhes petit noms nem sempre muito lisonjeiros. Tal pode ser encarado como meio caminho andado para o desaire amoroso, mas não é isso que está em causa.

Confesso que, às vezes - mea culpa, assumo, não é só às vezes, mas o que querem se, tratando-se dos amores alheios, eu sou de uma clarividência quase sempre certeira... -, me falta paciência para fazer, pela enésima vez, o papel de confidente sobre amores que cedo revelaram - pelo menos aos meus olhos, mas, que sei eu, afinal sou míope... - não ter pernas para andar, mas, shame on me, sou dos primeiros a soltar a gargalhada quando ela, com o seu seu jeito muito "Fernanda Young" de ser, abre a caixa e começa a desfiar o rosário de "acidentes de percurso". Num destes dias de muito calor, estávamos nós os dois na praia, a torrar ao sol, quando ela se sai com esta pérola:
- "ah, Oz, teve um tipo com quem sai por pouco tempo, um homem bem bonito por sinal, que, numa das vezes que me chamou para conversar no MSN, perguntou se podia ligar a cam... Eu respondi que sim, mas não esperava que ele fosse começar a despir-se... Pior, a dada altura, e sem me dar sequer tempo para reagir, quando vi já ele estava a bater uma!!!! Nossa, acho que nem consegui dormir direito nessa noite..."

Eu, que conheço bem a amiga que tenho, não resisti a provocar:
- "Hummmmmmmm, confessa, não foste apanhada tão desprevenida quanto isso... Quase aposto, tu bem deves ter dado corda ao desgraçado para ele se enforcar, confessa..."

Ela, que me conhece, mas não tão bem quanto julga, não se deu por achada:
- "Ah, sabes como é, né, rsssssssssss... Mas, sério, eu realmente não tinha previsto aquilo...Agora, admito, claro que não resisti a contar a alguns amigos. Os meus amigos gays, então, ficaram histéricos e só me diziam 'gente, pensava que esse tipo de coisas só aconteciam connosco!'. Ai, tu sabes que eu não presto mesmo, quase que fiquei tentada a chamar alguns deles lá a casa na segunda vez em que ele fez o seu showzinho para mim... rsssssssssss!"

Eu, como quem não quer a coisa, sacudi a água do capote:
- "Tu não prestas mesmo! rsssssssss E esses teus amigos, hein, não se cansam nunca de ver um homem com as calças arreadas! rsssssssssssssssssss"

É, por estas, e por outras também que não vêm agora ao caso, a mim, que sou moderno-mas-não-tão-moderno-assim, muito dificilmente me apanharão algum dia com as calças na mão fora de contexto adequado... Sim, tenho medo de ir parar ao youtube, sim, não me agrada a ideia de cair na boca do povo... Mas, mais do que isso, eu sou mesmo é, tratando-se de baixar as calças, um tipo à moda antiga. Chamem-me puritano, mas eu ainda sou daqueles que, à falta do lugar certo, prefere ficar-se pelo implícito. Além de que já passei da idade para me contentar com puerilidades do género "mostro o meu se tu me mostrares o teu". But I'm sorry I don't pray that way. Para mim, as coisas resolvem-se com as cartas na mão, sem trunfos escondidos nas mangas. E ai ou se paga para ver ou não. Como quem diz: "ajoelhou, agora vai ter de rezar".


7.7.08

Ex, mas pouco...


Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou...
(Codinome Beijaflor, Barão Vermelho feat. Cazuza)


Para onde quer que me vire, nestes dias, parece que há sempre alguém, mais ou menos próximo, às voltas com um(a) ex... E ai, ao ouvir Cazuza (sim, Cazuza tem esse efeito em mim...), interroguei-me: o que, em sã consciência, nos poderá levar a manter um(a) ex nas nossas vidas? Pensei, tornei a pensar, pensei melhor e cheguei à conclusão que só pode ser por:
  1. Terceiros, porque se há filhos, mais tarde, ou mais cedo, vamos ter de levar com 0(a) ex. Há também quem partilhe a custódia do cachorro.
  2. Amizade, porque, antes de tudo, o(a) ex é nosso(a) amig0(a). O sexo foi, é e será apenas um prolongamento disso.
  3. Egoísmo, porque o(a) ex se tornou o nosso plano B e por isso recusamo-nos a abrir mão dele.
  4. Despeito, porque não tivemos a última palavra e isso deixa-nos P da vida. Queremos reconquistá-l0(a) só pelo gostinho de provarmos [a nós, a ele(a) e aos outros] que somos capazes de virar o jogo.
  5. Masoquismo, aquela pessoa não nos quer mais, mas nós achamos que não seremos capazes de viver sem ela. Daí, inventamos mil pretextos para não sair de perto e estamos até dispostos a viver de migalhas.
  6. Masoquismo + Despeito = dar o troco. Aquela pessoa dispensou-nos, mas ainda assim nós insistimos em não sair por completo da sua vida. Espiamos as suas entradas e saídas no hi5, no orkut, colocamos amigos comuns ao barulho e, quando finalmente não restam mais dúvidas de que ele(a) já tem outro(a), cometemos a suprema desfaçatez de lhe tentar fazer ciúmes.
  7. Pena ou sentimento de culpa, porque o(a) ex ficou um farrapo após a separação e nós sentimo-nos responsáveis.
  8. Princípio, porque metemos na cabeça que ficar amigo do(a) ex é uma demonstração de grande maturidade e civilidade da nossa parte.
  9. Preguiça, porque o(a) ex já faz parte da mobília e mudá-la de lugar dá muito trabalho.
  10. Impedimentos legais, porque no desvario da paixão acreditámos que seria para sempre e, como tal, não pensámos que poderíamos um dia vir a ser co-responsáveis pelas suas dívidas. O(a) ex torna-se um estorvo, mas, na impossibilidade de o(a) mandar para o diabo que o(a) carregue, só nos resta o consolo de o(a) imaginar nas piores e mais inenarráveis formas de humilhação pública. Queremos sangue. O seu sangue.