I'm holding on your rope,
Got me ten feet off the ground
And I'm hearing what you say
but I just can't make a sound
You tell me that you need me
Then you go and cut me down, but wait
You tell me that you're sorry
Didn't think I'd turn around, and say...
that it's too late to apologize, it's too late
I said it's too late to apologize, it's too late
(Apologize, Timbaland feat. One Republic)
Como um insecto atordoado pela luz, cambaleio até à janela. Escancaro as cortinas pesadas. Uma fina penugem plúmbea cobre os telhados de Paris. O meu corpo nu estremece quando me roço, inadvertidamente, pelo vidro inerte. Não ouço os teus passos. Quando dou por ti, já um braço me envolve pela cintura como uma trepadeira tenaz. Pousas o queixo no meu ombro. Os pêlos hirsutos da tua barba trespassam-me como agulhas finas. Não me afasto, mas também não me viro. Não de imediato, pelo menos. Deixo-me ficar, contigo à ilharga, a tentar vislumbrar um sentido para aquela manhã de contornos esboroados. Encaro-te por fim, tens os olhos semi-cerrados. Pareces-me frágil. Aceito a tua boca mas, assim que mergulho nela, um rasto amargo deixado pelo último cigarro fere-me a língua. Contenho-me para não denunciar o gosto a fel deixado nas minhas entranhas. Tomado pelo remorso, permito que me conduzas pela mão à cama desfeita. Deito-me de costas, com o olhar enevoado e não solto um ai. Calo-me por me sentir incapaz de te dizer aquilo que há muito esperas escutar. Com as palmas das tuas mãos alisas a minha pele enrugada pelo frio. O sangue que me corre nas veias parece seguir o leito escavado pelas pontas dos teus dedos. Aos poucos, sou invadido por um ardor que me entorpece. La petite morte aproxima-se, antecipo-a mal a tua cabeça se ergue por entre as minhas coxas. Num fugaz instante de lucidez, fixo a jarra ao lado da cama. As dálias franjadas, que ainda ontem exultavam de vida, estão agora mirradas. Dentro da gaveta, ao alcance da minha mão, se a esticar, está um envelope. No seu interior vais achar, quando voltares do banho, um bilhete onde escrevi uma única palavra. E se me procurares neste quarto de hotel, rogo para que não encontres a sombra que deixarei para trás assim que me escapulir sorrateiramente por aquela porta. Comigo vou carregar apenas a culpa de quem não foi tocado pelo amor.
* Título “roubado” a Baudelaire