Imagem de Greg Gorman distorcida por OZ
I watch it for a little while
I love to watch things on tv
(…)
I’ve been told that you’ve been bold
With Harry, Mark and John
Monday, tuesday, wednesday to thursday
With Harry, Mark and John
(Satellite of Love, Milla Jovovich & The MDH Band, música dedicada por Einstein)
Começou a segunda temporada de Brothers & Sisters na Fox Life. Sou fã desde a primeira hora. Lá pelas páginas tantas, Kevin, o gay assumido da família Walker ― agora há também o tio Saul, ainda no armário apesar de já ir nos 60 ―, faz uma cena ao saber que o seu namorado vai passar um ano em missão humanitária na Malásia e acaba por ouvir deste aquilo que não quer:
- Que direito tens tu de me pedir para mudar a minha vida quando tu ainda nem foste capaz de me dizer “amo-te”.
Esta técnica vem em qualquer manual elementar de “dar o devido troco” e responde pelo nome de “colocar o dedo na ferida” ou, se preferirem, “acertar onde dói mais”. Agora a sério. Há realmente coisas na vida que precisam ser ditas… mas, permitam-me o contraditório, precisam ― e devem ― ser ditas no momento certo e, arrisco-me ainda a acrescentar, em pleno uso das faculdades.
Não é implicância; nem pouco-caso de quem ficou de fora do clube dos românticos empedernidos. Juro. Digo isto porque, ultimamente, dá-me a impressão que, por medo de ficar literalmente na mão, muito homem feito apressa-se a cair no extremo oposto ao banalizar o uso do “amo-te”, como se este fosse o tipo de coisa para ser proferida antes de tempo e/ou de ânimo leve… Não é. Não para mim, pelo menos. É duro, cruel até, não responder na mesma moeda a alguém que se vira para nós e nos diz “amo-te”? É, mas ainda assim preferível à desonestidade tremenda de fazê-lo precipitadamente, e irreflectidamente, apenas por dever de retribuição.
Isto leva-me também a uma tendência muito curiosa que tenho vindo a observar nas minhas conversas mais recentes com alguns dos bloggers que conheci através deste blogue ― não se assustem, não vou cometer nenhuma inconfidência. Para meu relativo espanto, o grande objectivo dos mais jovens, mesmo daqueles para quem a sua (homo)sexualidade é ainda um dado recente, parece ser o de encontrar um namorado! Numa cultura que sempre viveu associada à promiscuidade e à inconstância nas relações ― e que continuará a viver, não vamos dourar a pílula ―, não deixa de ser, até certo ponto, uma inversão de valores a ter em conta. Tanto mais que este desejo de querer assentar com o “parceiro ideal” era, regra geral, atribuída, quando muito, aos gays mais maduros ― a quem bateu um certo vazio depois de experimentar o que havia a experimentar ― ou aos gays que vibram com as heroínas dos musicais e comédias românticas e, tal como elas, passaram igualmente a suspirar pelo príncipe montado no cavalo branco (podemos trocar o cavalo branco por um alazão, o que vos parece?).
Quer isto dizer que o mito do príncipe encantado tomou a comunidade gay de assalto? Na verdade, palpita-me não ser de hoje, o que talvez seja novidade é o facto de haver um número cada vez maior de gays, até para se demarcarem do que era, e é, o padrão mais reprovado, que não se envergonha de o confessar em voz alta. Em grande parte, tenho para mim que esta é claramente uma tendência pós-Brokeback Mountain, um filme que, mais do que mudar mentalidades de quem está de fora, teve o mérito de mostrar a quem está dentro que o amor entre dois homens não é assim uma coisa tão improvável de acontecer… e durar.
Há, como não podia deixar de ser, o reverso da medalha. Ao ouvi-los falar do que querem, e, sobretudo, de como o esperam conseguir, fico com a nítida sensação de que, grosso modo, estamos perante um ideal mais abstracto do que concreto. Na impossibilidade de encontrar na esquina mais próxima um príncipe de medidas perfeitas, pronto a desembrulhar, muitos desesperam pelos sapos que terão ainda de engolir enquanto esperam pela sua vez. Isto, claro está, até descobrirem que para se saber reconhecer um príncipe de verdade é preciso ter beijado alguns sapos. E que tal como muitos sapos viram príncipes, muitos príncipes também se tornam sapos.