When I'm drivin' in my car
And that man comes on the radio
He's tellin' me more and more
About some useless information
Supposed to fire my imagination
I can't get no, oh no no no
(Satisfaction, PJ Harvey e Björk)
O título, roubei-o descaradamente a um dos filmes que mais gosto de Kieślowski ― paz à sua alma ―, mas acabam-se aqui as semelhanças de enredo. Apenas senti necessidade, na semana que passou, de me desdobrar em mais um alter-ego. Como Oz passei a ter um percurso, ganhei uma história e carrego todo um atrelado de emoções que não quero expor (já) a algumas pessoas que estão apenas agora a chegar à minha vida [e chegar não é força de expressão; o mais certo é que algumas, senão mesmo a maioria, não passe da soleira da porta].
Não sofro de múltipla personalidade; tão pouco sou adepto do embuste. Quando crio um petit nom encaro o mesmo como um desdobramento do todo. É uma forma de revelar apenas uma parte do que sou ― a parte que (me) interessa mostrar. Não o sinto como algo desonesto, tanto que não me torno uma pessoa diferente, não arranjo outra profissão, não me reinvento fisicamente nem passo a defender outras ideias que não as minhas. Sou sempre eu, não por inteiro, mas sempre eu.
Dizia eu então que senti necessidade de me aventurar para fora de pé. Não é uma sensação agradável ― sobretudo para quem, como eu, é avesso a abandonar a sua esfera habitual de conforto ―, mas nem sempre podemos jogar (só) pelo seguro e há que ter cojones para saber admitir quando a nossa teimosia nos atolou num impasse. E, verdade seja dita, nem me desagrada de todo a ideia de me pôr novamente "A Caminho de Idaho". Há um lado lúbrico ― que passa pela adrenalina de ter de fazer escolhas, acertadas ou precipitadas, com base no pouco que também me é dado a ver ― muito revigorante. É uma forma de poder e o poder, quando bem administrado, funciona como afrodisíaco.
De toda a forma, mesmo disposto a sair dos meus domínios, há linhas que procuro não pisar. Curiosamente, uma delas coloca-me, logo à partida, um pouco à margem da dominante masculina, que acha extremamente vantajoso, até onde consigo perceber, o facto de nós, homens, nos podermos relacionar sexualmente sem rodeios e sem ter de apelar muito à imaginação. Queremos sexo, então nada melhor do que dizer ao que vimos. Nada contra, penso até que se evitam assim muitos equívocos ― eu, da primeira vez, por exemplo, tive de ganhar coragem para me certificar como as coisas se iam passar e recebi como resposta um indignado “Mas ainda nem fomos para a cama e já me queres limitar a um papel?”; para não falar de um amigo que ainda há pouco tempo voltou frustrado de um encontro porque, sem terem falado primeiro, chegados à hora H, nenhum dos dois quis, como direi sem ferir susceptibilidades? (a dele, não a vossa), ser o primeiro a dar-se ao manifesto.
Não tenho nada contra, mas também não rezo por essa cartilha. Não sou pudico e, por mais de uma vez até, tentei ir por essa via, mas esse ritual primário do "sou isto-quero aquilo, tenho isto-quero aquilo, dou isto-quero aquilo" não me dá tesão. Pode ser prático, pode mesmo ser coisa de macho, mas não é para mim. Não me excita o óbvio, o que querem que faça. Mas, como disse antes, a limitação é minha. Estou em minoria, eu sei, mas estou longe de ser uma ave rara. Por incrível que (vos) pareça, encontro sempre, aqui e acolá, espécimes semelhantes ― alguns gostam de se fazer passar por, na esperança de levarem água ao bico, mas não os condeno, que a vida está difícil e há gajos, como eu, que ainda gostam de complicar.
I can't get no satisfaction 'cause I try and I try and I try and I try… Mas quando se trata de obter o meu prazer, eu não sou homem de baixar os braços (nem os braços, nem o resto). Oh, no no no