11.11.07

Ressaca


When you go
Would you even turn to say hey
"I don't love you
Like I did
Yesterday"

(I don’t love you like I did yesterday, My Chemical Romance)


Nas duas últimas semanas, o meu trabalho absorveu-me e esgotou-me como há muito não acontecia. Mas fi-lo sem queixas, pois estive a fazer algo que me deu enorme gozo. Por mais de uma vez, já tive o privilégio, e a felicidade, de me realizar profissionalmente, mas sempre tive bem claro que, tal como não me limito a trabalhar para viver, também não vivo para o trabalho por mais que goste do que faço. Mas sei, com o devido mea culpa, que é muito fácil perder o pé e errar a mão. Sobretudo quando retiramos prazer do que fazemos e vamos deixando para trás coisas e pessoas, convencidos de que a hora é aquela e que mais tarde poderemos voltar atrás para apanhar o que sobrou e colar os cacos. Já me aconteceu. Talvez por isso, eu tenha hoje o dobro do zelo para dar a cada coisa o seu devido espaço e não cair na asneira de as misturar. Não dá direito a happy end, acreditem.

Vem isto a propósito de uma conversa que tive há dias com um colega. Encostados a um balcão de bar, depois de várias cervejas ― e há situação mais propícia à (in)confidência? ―, ele, que deixou o seu país e muita coisa para trás por amor a uma mulher, dava-me conta que o seu casamento de apenas dois anos se ressentia até certo ponto das suas constantes ausências devido ao trabalho. Ele tem perfeita consciência disso, mas esta ― a sua realização profissional ― é das poucas coisas, talvez a única, de que não está disposto a abdicar, certo de que sem isso acabará por se tornar um homem infeliz e, necessariamente, alguém incapaz de fazer feliz quem estiver ao seu lado.

Mais do que dar palpites, escutei o seu desabafo, mas aquilo ficou a ressacar na minha cabeça.
- Até onde estamos dispostos a ir, a abdicar, em nome de uma promessa de felicidade?
- Até que ponto poderemos ser felizes, e fazer feliz quem nos rodeia, se anulamos parte do que somos?
Confesso que se nunca fui muito idealista a este respeito, estou ainda mais céptico. Sobretudo agora que me meto também na pele daqueles que, mais do que por amor, abandonam tudo, ou quase tudo, o que lhes é familiar para ir viver de forma mais livre a sua (homo)sexualidade.

- Não será demasiado alto o preço a pagar?
- E o vazio do que se perdeu, chegará algum dia a ser preenchido pelo que se ganhou?

Perguntas sem resposta. Ou melhor: perguntas a que eu não consigo responder de forma clara. Aliás, eu que me gabava até há certo tempo de nem sempre saber o que queria, mas de saber muito bem o que não queria, dei por mim a chegar à dura constatação de que até esse postulado de almanaque está furado. Pelo menos no que à minha pessoa diz respeito. “No fim, quem sofre mais são sempre aqueles que não sabem aquilo que não querem”. Li isto, ou ouvi, um dia destes. Touché.

10 comentários:

João Roque disse...

Para já, começava a sentir a tua falta...ainda bem que regressaste.
Quanto ao texto, focas uma situação mais comum do que se possa pensar, pois acontece muitas vezes sermos apanhados numa indecisão daquelas mesmo importantes, e da qual depende não só a nossa felicidade e bem estar, mas também a de terceiros.
Costumo dizer que não me arrependo de nada do que fiz, mas se houvesse algo a "repensar" questionaria talvez de outra forma a recusa de um emprego muito promissor numa terra mais distante,"só" porque estava apaixonado e não queria deixar a minha paixão; claro que era uma paixão passageira, e o emprego, não o seria; mas o prazer do momento terá valido o "sacrifício"?
Abraço.

Latinha disse...

Devo confessar que esse último ano resolvi ficar mais tempo "em terra firme" por conta de perguntas como essas.

De repente me dei conta que estava em muitos lugares e não pertencia a nenhum deles, e olha que eu cheguei ao ponto de ter "duplo domicilio". Confesso que fiquei assustado...

Hoje tenho tentado balancear melhor as coisas... mas não é fácil...

Abraços e uma grande semana para você! (E um merecido descanço)

Anónimo disse...

Uhhn...

Acho que também não sei o que não quero.

Râzi disse...

Oi, meu padeiro lindo e fofo!!!

Rapaz, essa coisa de querer e não querer é algo complicado!

Como vamos realmente saber o que queremos??? Querer pressupões precisar. Se precisamos é porque não temos.. e se não temos, como saber que é bom?????

Podemos querer aquilo que já tivemos e perdemos... mas como saber que vai ter o mesmo gosto? Como saber se vai dar o mesmo prazer?

Tempos atrás assisti "Speed Racer" e "Might Isis"... melhor seria não ter assistido! hauahuahuahuhua1

Então, como fazer? Bom, eu deixo a cargo da Vida! E vou tentando satisfazer as minhas necessidades mais prementes! De resto, que seja como Deus quiser!

Beijão, lindo, estava com saudades de vc... e ainda estou! Não passa mais pelo MSN?

:D

Anónimo disse...

Posso saber pouco, mas, e à luz do que aqui li, posso afirmar que sei o que não quero. Pelo menos isso. Mas que dá medo fazer certas afirmações, lá isso dá. Abraço!

Maurice disse...

As certezas só o são até serem substituídas por outras, pelo menos no que ao mundo dos afectos e das relações diz respeito. Ir onde te leva o coração é uma patetice; seguir a razão pura e dura, uma palermice. Talvez a inteligência emocional... mas o que é isso exactamente?
A solução é resignar-se a dar umas cabeçadas na parede e chamar-lhe "experiência"... :)

Abraço

Anónimo disse...

Bom, o importante, acho é não se arrepender demais depois de tomar qualquer decisão, qualquer rumo! Legal é tentar manter um equilíbrio entre todas as possibilidades (por exemplo, não abandonar os amigos por causa de uma paixão), mas depois de decidir é encarar e fazer o melhor! Ou não, hehehe...

BEIJO!!! Saudade docê, hómi! Que bom que voltou.

Paulo Mamedes disse...

Eu não sei tudo o que quero e o que não quero ... mas a lista já está grande!

Will disse...

Em primeiro lugar, faço minhas as palavras do Pinguim: começava a sentir a tua falta :)

Em segundo lugar, aproveito para confessar que me identifico tanto nos últimos tempos com essa postura que criticas: viver para o trabalho... No entanto, comprometi-me a empenhar um ano da minha vida para trabalho e estudo intensos e ei-lo aqui, por isso não posso reclamar...

Por fim, acho que mesmo que saibamos o que queremos muitas vezes é dificil assumi-lo a 100%... vai-se assumindo com conta, medida e, claro, muito equilíbrio.

Unknown disse...

Gatooo! Blz? HUMMMM... assunto delicado, né? Chegar num meio termo, num ponto comum onde não se desagrade a nenhuma das partes, é praticamente impossivel....
Beijos, gato!