So now for restless mind, I could go either way
(Don’t Bring Me Down, Sia)
Há já alguns dias que trazia este post alinhavado mentalmente e ia ser no meu melhor estilo leve-solto-e-não-sou-de-jogar-fora. Entre outras ligeirezas, ia falar do meu cabeleireiro, tema recorrente (para verem a importância que dou ao meu cabelo), que está cada vez mais abichanado para o meu lado, sem que eu consiga perceber se isso é bom ou mau sinal, e das massagens no escalpe para amansar o pêlo que ali recebo, uma maneira de compensar o tempo (o imenso tempo) de espera até o rapaz me colocar, salvo seja, as mãos em cima; ia falar do jovem actor, apareceu numa altura em que eu ainda estava descabelado (o que não é lá muito justo), com quem troquei olhares furtivos, a quem cobicei as botas e a quem invejei o físico; ia falar do Nanolift, que anunciam como uma espécie de "milagre" da cosmética (mais um), um cocktail pós-injecção, pós-laser, pós-cirurgia, pós-peeling, perfeito, dizem, para acabar com os pés-de-galinha à volta dos olhos; ia falar do estado catatónico em que andei, ao ponto de me rever em cada letra de música; ia falar de Before the Devil Knows You're Dead, um filme denso, (a)moral, onde Philip Seymour Hoffman (Capote, Magnolia...) é, mais uma vez, portentoso; ia falar do tipo, belíssimo exemplar com o seu quê de animal exótico, com quem tive uma espécie de encontro imediato, não fossem os sacos de compras (dele) e do ginásio (meu) terem atrapalhado a mobilidade.
Ia falar de tudo isso, e talvez ainda de uma ou outra insignificância de que me lembrasse à última da hora, mas já não vou. A minha semana começou mal. Minto. Não começou, porque, de certa forma, o que aconteceu assemelhou-se mais à última gota que faz transbordar o copo. Há um bom tempo que não ando nada bem; há um bom tempo que não gosto nada do rumo que a minha vida tomou. Só que, como tenho imensa dificuldade em dar parte de fraco, fui tratando de sacudir a poeira para debaixo do tapete. Permiti-me, de vez em quando, aqui e acolá, um grito de raiva, um desabafo. Mas nunca foi o suficiente para exorcizar os (meus) demónios.
O golpe de misericórdia, que me atingiu como se tivesse sido atropelado por um camião, chegou sob a forma de uma ruptura penosa. Uma ruptura que eu não fui capaz de fazer, de maneira definitiva e de forma a não deixar qualquer porta entreaberta, lá atrás. Permiti que a situação se arrastasse muito para lá do razoável - sei lá se por ingenuidade; sei lá se por vaidade oca de saber alguém incapaz de me esquecer; sei lá se por não saber dizer não taxativamente; sei lá - e agora isso tornou-me co-responsável deste desfecho triste. No fundo, deveria sentir-me aliviado, porque acabou de vez, mas não consigo ser egoísta e frio ao ponto de saber alguém de quem gostei mal sem que isso não me atinja também por tabela.
Sou cabeça dura; mesmo na merda, eu insisto sempre em extrair alguma coisa de positivo, na lógica do "há males que vêm por bem". Ao ter caído finalmente por terra, com os meus cacos espalhados por tudo o que é canto da sala, eu não tenho mais como seguir como se nada fosse - não me parece mal que assim seja. Mais: desta vez, não vou a correr juntar todos os pedaços para os colar à pressa, sempre na esperança bacoca de que, se me esforçar, ninguém vai perceber que estou remendado.
Preciso admitir, por muito que me doa, que não estou feliz. E não estou feliz porque, ao contrário de outras áreas que sempre consegui controlar, a minha vida sentimental é um barco à deriva. Choca-me perceber, eu que sempre fui tão racional (e talvez seja esse um dos problemas, o ser racional quando devia ser emotivo), que tenho uma propensão inegável para envolvimentos complicados - nunca me dou por inteiro a quem se apaixona por mim, antes me aproximo de quem nunca se vai apaixonar por mim. As minhas relações, além de incompletas, são desequilibradas. Constatar que isto se tornou um padrão é para mim igual a levar um soco no estômago, pois sempre me tive na conta de alguém difícil, mas, ainda assim, equilibrado. Que atracção é esta pelo abismo, pelo improvável, pelo que está fora de alcance? É masoquismo? É autodefesa? É auto-boicote? O que eu ganho, que prazer é que eu tiro de relações em que sou usado para tapar a solidão e a carência?
Não tenho resposta para nenhuma destas perguntas. Ou tenho, mas não são as certas. Não estou habituado a não saber que rumo dar à minha vida. Não estou habituado a sentir-me impotente quando se trata de me regenerar. Preciso de uma purga, mas esta não é daquelas que vai lá com uma crise de choro homérica para lavar a alma. Estou ferido, preciso sarar. Estou perdido, preciso parar e ter a humildade de pedir ajuda para achar o caminho. Sozinho não vou lá. Por ora, só me permito uma certeza: eu vou sair desta. Pode demorar, mas eu vou sair desta. E a cada música de Sia que escuto, melhoro um pouco, porque, perdõem-me a presunção, todas foram escritas para mim.
Ia falar de tudo isso, e talvez ainda de uma ou outra insignificância de que me lembrasse à última da hora, mas já não vou. A minha semana começou mal. Minto. Não começou, porque, de certa forma, o que aconteceu assemelhou-se mais à última gota que faz transbordar o copo. Há um bom tempo que não ando nada bem; há um bom tempo que não gosto nada do rumo que a minha vida tomou. Só que, como tenho imensa dificuldade em dar parte de fraco, fui tratando de sacudir a poeira para debaixo do tapete. Permiti-me, de vez em quando, aqui e acolá, um grito de raiva, um desabafo. Mas nunca foi o suficiente para exorcizar os (meus) demónios.
O golpe de misericórdia, que me atingiu como se tivesse sido atropelado por um camião, chegou sob a forma de uma ruptura penosa. Uma ruptura que eu não fui capaz de fazer, de maneira definitiva e de forma a não deixar qualquer porta entreaberta, lá atrás. Permiti que a situação se arrastasse muito para lá do razoável - sei lá se por ingenuidade; sei lá se por vaidade oca de saber alguém incapaz de me esquecer; sei lá se por não saber dizer não taxativamente; sei lá - e agora isso tornou-me co-responsável deste desfecho triste. No fundo, deveria sentir-me aliviado, porque acabou de vez, mas não consigo ser egoísta e frio ao ponto de saber alguém de quem gostei mal sem que isso não me atinja também por tabela.
Sou cabeça dura; mesmo na merda, eu insisto sempre em extrair alguma coisa de positivo, na lógica do "há males que vêm por bem". Ao ter caído finalmente por terra, com os meus cacos espalhados por tudo o que é canto da sala, eu não tenho mais como seguir como se nada fosse - não me parece mal que assim seja. Mais: desta vez, não vou a correr juntar todos os pedaços para os colar à pressa, sempre na esperança bacoca de que, se me esforçar, ninguém vai perceber que estou remendado.
Preciso admitir, por muito que me doa, que não estou feliz. E não estou feliz porque, ao contrário de outras áreas que sempre consegui controlar, a minha vida sentimental é um barco à deriva. Choca-me perceber, eu que sempre fui tão racional (e talvez seja esse um dos problemas, o ser racional quando devia ser emotivo), que tenho uma propensão inegável para envolvimentos complicados - nunca me dou por inteiro a quem se apaixona por mim, antes me aproximo de quem nunca se vai apaixonar por mim. As minhas relações, além de incompletas, são desequilibradas. Constatar que isto se tornou um padrão é para mim igual a levar um soco no estômago, pois sempre me tive na conta de alguém difícil, mas, ainda assim, equilibrado. Que atracção é esta pelo abismo, pelo improvável, pelo que está fora de alcance? É masoquismo? É autodefesa? É auto-boicote? O que eu ganho, que prazer é que eu tiro de relações em que sou usado para tapar a solidão e a carência?
Não tenho resposta para nenhuma destas perguntas. Ou tenho, mas não são as certas. Não estou habituado a não saber que rumo dar à minha vida. Não estou habituado a sentir-me impotente quando se trata de me regenerar. Preciso de uma purga, mas esta não é daquelas que vai lá com uma crise de choro homérica para lavar a alma. Estou ferido, preciso sarar. Estou perdido, preciso parar e ter a humildade de pedir ajuda para achar o caminho. Sozinho não vou lá. Por ora, só me permito uma certeza: eu vou sair desta. Pode demorar, mas eu vou sair desta. E a cada música de Sia que escuto, melhoro um pouco, porque, perdõem-me a presunção, todas foram escritas para mim.
12 comentários:
Amigo Oz
nesta muito completa introspecção á tuas confltualidades espirituais, tu estás a apontar precisamente onde erras e só tens que ter a coragem de, no futuro, ir por outros caminhos; terás acima de tudo, de dar mais de ti, sem dar tudo, mas como tu gostas de receber, os outros pensarão o mesmo...
Abraço.
Bom, acho que este post foi escrito pra mim!! :-) Mas se quiser sair das racionalidades e pedir ajuda aos céus, vá pra http://aparecidaliberato.terra.com.br/calcule5.asp
Foi de lá que eu tirei o meu. Que era seu, já não sei mais.
Mas é preciso muita coragem pra se enxergar como se é. Mais ainda pra se mudar o que tiver que ser mudado. Te acompanharei na sua luta como me for possível. Mas tampouco sei se tenho as respostas. Onde está Latinha quando precisamos dele??
A primeira fase de superação dos tempos maus, é a percepção dos erros ou, se não forem erros, das causas.
Com o tempo tudo se ultrapassa.
Com o tempo moldamo-nos e percebemos que mudar um pouco não custa nada e pode trazer benefícios futuros.
Abraço
Ah, meu amado amigo...
O que dizer de toda essa situação???
Ainda me lembra de nossas conversas, em que vc dizia que sabia manter uma distância segura... não existe distância segura, porque a questão de espaço é relativa.
E quando lidamos com emoções, então, que são como fogo, não existe mesmo distância segura...
Um vento que seja joga todas as labaredas em nossa direção e, quando vemos, estamos cercados... e a única opção é queimar...
Como vc disse, não vai reunir os cacos apressadamente... afinal, pra que? Recolha-os devagar... apesar de mais sofrido, é melhor...
E sempre, mas sempre mesmo, conte com seus amigos... estamos aqui por vc, meu querido...
Depois conversamos mais...
Um grande beijo.
aconteceu comigo:
- por que você não é sempre assim?
- assim como?, perguntei.
- assim, do jeito que eu gosto.
do jeito que eu gosto = calmo, controlado, racional, maduro.
e qual é a graça de ser assim?
beijo grande.
p.s. estava louco pra ver esse filme. mais beijo.
"A idéia não é 'não errar'. Não se pode ter como meta algo inatingível. Ou pode, mas não é saudável, já que infactível. A idéia é aprender a reconhecer o erro. Nosso e alheio. Porque só a partir do reconhecimento do erro é que podemos tentar interromper sua proliferação e sua repetição. Reconhecer os erros é o primeiro passo. Pelo menos pra quem quer ir pra frente."
não obstante o estado de espirito e a consciência que a vida e o amor nem sempre são o que deviam ser, o que é certo é que este texto é belissimo, extraordinariamente bem escrito, com humor e lucidez de braços dados.Aliás pouca gente escreve desta forma, aqui pelo menos na blogsfera.
Não sei se és exageradamente racional, mas seja o que fores não pode ser assim tão mau, porque caso contrário não serias assim (isto é, ninguêm escreve desta forma se tiver a emoção guardada num baú).
Um abraço
Não sei o que escrever aqui... vou guardar as palavras para um daqueles nossos cafés! =)
"Nunca me dou por inteiro a quem se apaixona por mim, antes me aproximo de quem nunca se vai apaixonar por mim."
Eu poderia ter escrito a mesmíssima coisa, meu caro.
E olha... os momentos de introspecção, dessa análise que tu fez, são muito bons. Nos ajudam a enxergar muita coisa que a gente precisa mudar ou melhorar.
Fique bem, ok? E quando der, aparece pra gente papear.
Abraço!
de facto, nem sempre as coisas nos correm de feição... daí a achares que tens propensão para o desastre espero que exista um longo caminho; afinal, como detecta o Pinguim, a tua introspecção é bem completa e consciente. logo, ser-te-á muito mais fácil descobrir o caminho (mesmo que não seja o certo... uma chatice: só se descobre depois, normalmente quando as coisas correm mal!)
ao fim e ao cabo, só espero que consigas ultrapassar o momento sem feridas, comandar as coisas, tomar a rédea dos acontecimentos, como dizes habitualmente fazer e racionalizar (mas só qb, ok! fala-te um racionalista emotivo). claro que vais sair desta, era só o que faltava!
abraço
Ia falar de tantas coisas e falou tão profundamente sobre coisas tão belas.
Abraço, amigo
Edu,
Vc deveria ter colocado o crédito.
O texto é da Rosana Hermann - blog Querido Leitor.
http://img49.imageshack.us/img49/6967/originalmp4.jpg
http://queridoleitor.zip.net/arch2008-09-14_2008-09-20.html#2008_09-16_13_37_42-128170460-0
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