Looking everywhere, I see nothing but people
Looking everywhere, but I see nothing but people
Where have they gone? I always thought I could never leave them
They are calling me, but they don't know I can't stay all night long
(Dr. Strangeluv, Blonde Redhead)
Há uns bons anos, num daqueles jantares que antecediam uma noite de copos e desvarios no Bairro [Alto], alguém me perguntou, já não me lembro a propósito do quê (nem isso interessa para o contexto), se me considerava romântico... Sem pensar muito, soltei um lacónico "Tenho dias" que suscitou um risinho nervoso entre os presentes e uma aquiescência generalizada que valia por um "Lá está ele a armar-se em diferente". Ainda hoje recordo a cena, com um misto de orgulho e de pesar, e dou por mim, não tão raro como isso, a reflectir no peso (e nas implicações) que essa mesma postura ambígua, cultivada com igual bravata mas também com algum desconforto à mistura, tem tido na minha vida amorosa ao longo dos anos como Homem adulto.
Não sou romântico, facto assente, mas, mais do que ser capaz de gestos românticos, eu cultivo até, quando estou para ai virado, certas intenções românticas. O que não é bem a mesma coisa. Talvez por isso, não sei ao certo, nem sempre me faço entender; todavia, pior do que não ser inteiramente compreendido nas boas (e más) intenções, é a dificuldade, mais minha do que dos outros, em conseguir achar um ponto de equílibrio entre o não ser (ou não querer ser) romântico e o poder estar romântico - que é como quem diz: eu não sou romântico, mas estou muitas vezes romântico. Não vejo nisto uma contradição de termos, mas admito que possa estar equivocado.
Da mesma maneira que ontem me escapulia de mulheres terrivelmente cor-de-rosa em busca de um porto seguro, agora não escondo igualmente a desconfiança sempre que me vejo às voltas com homens assumidamente românticos que me passam a sensação de uma vulnerabilidade e de uma dependência extremadas - algo que passei a definir por "sindroma do domingo à tarde no sofá" e que me coloca quase de imediato, como nos desenhos animados, em sinal de alerta! Escrito por outras palavras, eu diria que manifestações do tipo "Quero tanto encontrar alguém com quem possa me enroscar aos domingos à tarde, num sofá, a ver filmes" desperta em mim a mesma apreensão, para não ser bruto e falar antes em aversão, que me dizerem "Quero ter alguém para me aquecer os pés"!
Não me entendam mal, eu adoro tardes de preguiça num sofá e não sou insensível à questão dos pés frios - em sentido figurado ou não -, mas só acho brochante ter isso logo por condimento numa altura em que a conquista dita outro tipo de pimenta.
Há muito que tenho claro não fazer minimamente o género "foder-como-se-não-houvesse-amanhã-sem-olhar-a-quem, mas, por outro lado, também não faço de todo a linha "homem-para-casar-e-prestes-a-calçar-as-pantufas. Procuro um meio-termo, mas o meio-termo não tem sido nada fácil de encontrar. Ou então, lá está, eu é que não tenho sabido hastear a bandeira certa e isto de não ser, mas poder estar, romântico não passa de mais um mito urbano.
15 comentários:
Muito bem equacionado o "problema"; nem oito nem oitenta...
E depois de algum tempo e de muitos momentos "menos românticos" lá chega o tempo de ficar um domingo enrolado num sofá.
Tudo equilibrado e no momento adequado.
Abraço.
gostei muito e muito verdade - só acredito que cada vez é menos verdade quando parece só haver esses 2 lados da moeda. a ver vamos. obrigado pelo texto.
Tem hora pra tudo, né? E eu também fujo de quem se diz apaixonado/quero-casar-pra-sempre no primeiro encontro. Sai fora, meu! :-)
Já tava com saudades!
realmente
tudo é uma questão de equilibrio...
e como disse o Edu aqui
tem hora pra tudo...
tem q saber que o sofá vem depois da cama, mas a cama vem depois de um bom papo
hauahauahuahauahaua
ADOREI O POST
E A FOTO !!!!!!!
BEIJOS
HAIRYBEARS
http://hairybears.blogspot.com/
eu me considero romântico, tenho meus sonhos de amor e felicidade eterna, mas tudo com os pés no chão
:)
"mas só acho brochante ter isso logo por condimento numa altura em que a conquista dita outro tipo de pimenta".!!!
Brochante?!?!?!?!? extraordinário!!!
Não me importo nada de ter uma tarde brochante no sofá :):):)
Mas realmente, está bem pensado, e em cheio!!! Estamos a ficar mais românticos, deliciosamente mais românticos :)
Sei bem como é... o mais difícil hoje em dia é achar o meio termo, pois ou o povo fode tudo e todos ou falam "eu te amo" no primeiro mês de relacionamento. Quem acha algo "no meio" disso é sortudo...
Beijo meu caro! Saudade!
Adorei o blog!
Irei adiciona-lo a minha lista!
Beijos
xxx
I am so wowed!!!
Such a great site!
Well done!!!
Mr J
Tenho vindo ao teu site, lido os textos e fiquei com vontade de ter o meu espaço em que poderei com algum custo, falar de um lado meu que pouco pessoas conhecem. Acabei mesmo de o criar, não é que não tenho um outro mas após uma análise ao que é a minha vida, resolvi que está na hora de tentar partilhar o que vivi e porque é que o nome "Almaneutra" sempre me disse tanto.
O amor pode ser estranho, mas o que mais me faz confusão é a ilusão que ele consegue transmitir com tão pouco, e num curto espaço de tempo.
Um abraço,
Almeneutra
Gostei do post... é uma reflexão simultaneamente engraçada e interessante.
A questão do romantismo talvez se prenda muito com a «motivação»... eu, por exemplo, ao contrário de ti considero-me romântico e gosto de o ser. no entanto, só se estiver realmente apaixonado e que sou gajo para esse tipo de atitudes, caso contrario sou muito pragmático e pouco dado a devaneios sentimentais ( e alias axo isso uma pieguice lol).
Por outro lado e tal como tu, não ando à procura da cara metade, até porque penso que isso e daquelas coisas que tem que acontecer naturalmente, mas também não me imagino numa cena de familia :/...
em suma: romantico sim... mas tem dias :D
querer passar os domingos à tarde no sofá, como premissa de relação, não é romântico - é só mesmo chato.
passei mts anos convencido que passar os domingos à tarde num sofá era universalmente romântico e, como tal, eu tb o deveria achar; outros tantos a convencer-me que não havia mal em não achar o programa romântico, era só um problema meu - que não era romântico.
mas agora digo-te: sou romântico E acho que não há grande romance em passar o domingo à tarde no sofá...
bem, admito, UM domingo à tarde não me pareceria mal. mas todos?
nah, isso não é ser romântico: é só ser desinteressado da vida.
e a mim, a perspectiva de passar mais que 1 domingo com alguém desinteressado da vida, corta por completo a vontade de ser romântico... (o que talvez explique o facto de ser um solteirão - um solteirão romântico, contudo... ;))
Nada de invenções de novas palavras para esta época :)
FELIZ NATAL, acho que diz tudo.
Abraços
http://br.youtube.com/watch?v=Vxvm_3Kjkb4&NR=1
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